(foto retirada da internet, sem autor definido. Se alguém souber, favor avisar para que o crédito seja inserido)
Ícaro
Se o pavão é misterioso
Se o chão se torna penoso
Se há punhos rancorosos
Se sangram olhos odiosos
Se o ar é denso na poluição
Se não se oxigena o pulmão
Se o ranço comanda a ação
Se a fumaça turva a visão
Se tudo lhe parece difícil
Se da penumbra há resquício
Se são nefastos os artifícios
Se encobrem os indícios
Se o passado ainda persiste
Se o dedo está em riste
Se é rasa a superfície
Se ter opinião é burrice
Se as palavras ficaram mudas
Se a malhação escolheu Judas
Se a divisão virou saída
Se encobrir sarará a ferida
Se virou oficial a contradição
Se intolerância cobre a razão
Se dividiram em polos a terra
Se o binário acena paz ou guerra
Se a esperança resolver faltar
Se o vento vindo de cima sufocar
Se o julgarem por concordar
Se o lincharem por discordar
Se a safadeza não o representar
Se a voz do povo se calar
Se os “ses” for o que restar
Se tudo o mais que pensar
Não perca de todo a fé
Mantenha-se firme, em pé
Siga atrás da sua criança
Que corre com segurança
Abra os braços, sinta o ar
Não deixe o corpo lhe pesar
Ninguém o impede de sonhar
E libere a mente pra voar
Mas mantenha a inquietude
A vida não é só de sonhos
Voe bem e voe alto
Mas fique de olho no solo
Que as raposas são sorrateiras
Não esqueça do sol
Asas são boas
Quando não são de cera
E não se descuide
Das aves de rapina
As garras são afiadas
E o ataque é na surdina
Rasante, rasteiro e cirúrgico
Voar é preciso
Mas o voo tem turbulência
Nem sempre calmo
Nem sempre de céu limpo
Nem sempre de poesia
Manogon