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quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Coletânea no ar e Desabafo no Ibest

Saiu a nova edição do Coletânea Artesanal, a segunda em homenagem à cidade de São Paulo. Sei que minha opinião é tendenciosa, mas essa edição está muito boa mesmo. Participo com dois textos: o poema Sampa (que foi publicado aqui) e o texto Café da manhã, inédito. Acesse o link do Coletânea Artesanal e confira. Presenteie-nos com seus comentários. Eles têm muito valor para nós.

Acesse também o blog do Desabafo de Mãe, onde escrevo semanalmente. Leia os posts e aproveite para votar no Desabafo para o prêmio Ibest. O link está na página do Blog. Olha, dá um pouco de trabalho por causa do cadastro e da validação da senha, mas isso é para evitar fraudes ou repetição de votos com o mesmo login. Pedimos sua paciência e seu voto. Ajude-nos a ter mais destaque na blogosfera. Com certeza, o sucesso do blog deve-se à participação dos leitores.

Obrigado.

Abraços.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Vida mansa

Ir e vir
Vai e vem
A rede balança
Um corpo embalado
Lá e cá se lança
O ritmo não cansa
Mas alivia o cansaço
Convite pra vida mansa
Só pra deitar
Só pra ficar
Fazendo coisa alguma

No rosto o carinho do vento
Vendo o dia passar
Virado de papo pro ar
Ou então a noite inteira
Os olhos vidrados no céu
Admirando as estrelas
Na mesa ao lado
Cuidadosamente colocados
Livros, lápis e folha
Ah, e uma branquinha
Pura e suave

Que vem lá da fazendinha
E a minha garganta molha
Mas há ali também
Entre um vai e outro vem
Onde o braço possa alcançar
Água de coco fresquinha
Adocicada, geladinha
Pra quando o calor aperta

A minha sede matar
Cabeça jogada pra trás
Voando feito as rolinhas
Perdida em pensamentos
Viajando em palavras minhas

Manoel Gonçalves

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Andanças em Sampa

Texto na íntegra de Andanças em Sampa, que saiu na edição anterior (15-01) do Coletânea Artesanal.

Andanças em Sampa

Não conseguia dormir. Apesar de esgotado, não conseguia dormir. Virava na ama como um ponteiro louco de relógio, descompassadamente. É, não ia ter jeito mesmo, teria de sair um pouco e espairecer. Mas não queria encontrar ninguém, não queria ir a nenhum lugar específico. Assim sendo, peguei minha jaqueta e sai sem destino. Caminhei até a estação, entrei no metrô e quando dei por mim, já estava na Av. Paulista. Ali, engolido pela imponência dos enormes edifícios e pela inquietação da noite, poderia deixar de ser um pouco eu mesmo e ser absorvido pela paisagem boêmia da noite. Sem me prender a nada, caminhei pelas largas calçadas e, por vezes, divagava observando pequenas poças d’água que se formaram após a rápida chuva, resultado de um dia calorento e abafado.

Atravessei a Rua Augusta e dei uma espiada no movimento frenético dos bares e boates que fervilham mais pra baixo, sentido centro da cidade. Do outro lado, o Conjunto Nacional, uma passagem obrigatória em minhas andanças naquela região, por causa da Livraria Cultura. Tão distraído que estava que quase fui atropelado por uma motorista desvairado. Provavelmente alguém apressado para não perder a balada. Mais a frente, passei pelo Masp e o Parque Trianon. Ainda hoje me admiro pela arquitetura ousada desse marco de São Paulo e que nos proporcionou o vão do Masp (muito embora a vista que se tinha antigamente tenha sido engolida pelo concreto). Passei pelo prédio da Gazeta, observei o emblemático edifício do Sesi, onde costumo assistir aos espetáculos em suas temporadas, e quando dei por mim, estava descendo a Brigadeiro Luís Antônio.

À noite, quando tudo está silencioso e notívagos, bêbados, baladeiros e prostitutas vagam pelas ruas, tudo parece sombrio, tudo parece abandonado. Lojas fechadas, botecos exibindo seus últimos clientes totalmente despidos de seus modos civilizados, a luz fraca dos postes, tudo contribui para uma visão de uma cidade em quadrinhos, uma Gothan City estilizada. E nesse cenário, pareço um roteirista escrevendo o próximo capítulo, bebendo de sua essência, inalando o odor do lixo e a mistura de cheiros que emanam dos becos e ruas úmidos. Subitamente paro, inerte como que enfeitiçado, vítima fácil para um predador. Até que recebo a pancada. Saio correndo e entro na Rua dos Ingleses, esgueirando pelas frestas, desço a escadaria e surjo na Rua 13 de Maio. Tenho que achar um lugar. Recebo outra pancada. É cada vez mais forte. Rápido, depressa, não posso ficar parado. Corro pelo Bexiga como um louco. Vejo uma cantina aberta, mas pelo meu estado o porteiro me encara e como não tenho tempo para me explicar, continuo a correria. Entro num barzinho, sedento e quase em frenesi, pego uma mesa no canto e me escondo. O garçom chega um tanto assustado, pergunta o que desejo. Digo-lhe que não posso perder tempo. Peço uma cerveja, mas antes uma caneta. E ali, no guardanapo mesmo, solto o que estava me deixando louco. Sinto-me cansado, mas feliz. Enfim, encontrei o final que tanto procurava para a minha história.

Manoel Gonçalves

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Deixar-se levar

Se a brisa da manhã soprar
Abra um sorriso e a sinta em seu rosto
Se o vento da tarde vier
Ponha a roupa no varal
E leia um livro na varanda
Ou debaixo de uma árvore
Se o sopro morno da noite chegar
Solte os cabelos, perfume o corpo
E se entregue às carícias da madrugada
Sob a luz da lua, sob o calor do edredom
Se o raio do sol invadir o quarto
Não se preocupe se não dormiu
Lave o rosto, ajeite o cabelo
É dia, é manhã, é esperança
É o recomeçar sempre
E se o sol não aparecer
Não se chateie
Feche a janela
Ligue o som
E volte pra cama
É bom adormecer
Ainda com a sensação de prazer
Ainda ouvindo o sussurro
Ainda sentindo os carinhos
Como se o momento fosse infinito
Como se a vida congelasse
No ápice da emoção
No gozo, num gemido

Manoel Gonçalves

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

SAMPA

São Paulo
De amores
horrores
odores
dores
calores
cores
flores

São Paulo
amante
errante
gigante
massificante
dançante
importante
infante
instigante

São Paulo
minha São Paulo
nem o grito das sirenes
nem o estalar das balas
nem o fétido lixo nas calçadas
nem o ritmo acelerado
nem os pobres abandonados
nada
absolutamente nada
pode tirar o seu brilho
sua luz amarelada da madrugada
o sol nascendo entre os prédios
o cheiro do pão tomando o bairro
os operários no chão após o almoço
a moça que passa requebrando
a criança que sorri na condução
e puramente dá um tchauzinho

Assim é São Paulo
uma senhora que nos olha
parece ter rugas e estar cansada
mas no fundo é uma menina
acenando e mandando beijo
convidando a sempre visitá-la
estendendo seu braço
para um afago
e pedindo bis

O sol se põe entre os prédios
sim
ainda há beleza nessa metrópole
ainda há brilho em seu olhos
e doçura em seus lábios
A cidade descansa?
Nunca
Aí é que começa a fervilhar
O ciclo não pára
Sempre se renova
se inventa e inova
sempre colocada à prova
sempre acolhedora
como o colo quente da mãe
a acariciar as madeixas
dos filhos que vão e vem
sempre esperando que um dia voltem

Homenagem à cidade de São Paulo.

Manoel Gonçalves

Texto meu no Coletânea Artesanal

Ontem saiu mais uma edição do Coletânea Artesanal, dessa vez com homenagens (poesias e textos) à nossa grande cidade de São Paulo. O meu texto chama-se Andanças em Sampa:

Andanças em Sampa

Não conseguia dormir. Apesar de esgotado, não conseguia dormir. Virava na cama feito um ponteiro louco de relógio, descompassadamente. É, não ia ter jeito mesmo, teria de sair um pouco e espairecer. Mas não queria encontrar ninguém, não queria ir a nenhum lugar específico...

Pode ser conferido na íntegra lá no blog. Acessem, visitem e comentem.

Abraços.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Foi a primeira vez que passou a virada de ano na praia. Teve a oportunidade em outras ocasiões, mas nunca deu certo. Bom, dessa vez deu. A expectativa era grande, assim como a decepção quando lá chegou. Falta de água em toda a região. Fila para todo lado. Gente se amontoando em todos os cantos. Comida e bebida a preços absurdos. O que parecia ser um passeio só não se transformou em pesadelo por causa da maravilhosa queima de fogos, do passeio noturno (quer dizer, parecia não ter saído da muvuca da cidade) com o som do mar, umas cervejas na mesa, amigos e algumas porções de peixe e camarão (tabelados pelo topo da alta temporada).
Mas a decepção mesmo foi com a educação do povo, pois havia lixo em todos os cantos, nenhuma campanha de coleta de lixo com distribuição de sacolinhas e instrução para que os banhistas levassem seu lixo e o depositassem nas lixeiras maiores. Tudo jogado na areia para ser arrastado depois pelo caminhão da prefeitura.
O cenário se complicou com a água suja, imprópria para banho, mas que não tinha aviso nenhum, nem no noticiário nem na praia. Isso resultou em virose nas crianças e na mulher e algum tipo de vírus que lhe rendeu picos de febre e uma tosse chata por vários dias. Como as pessoas sujam com esgoto aquilo que pode ser revertido em lucro para o comércio e arrecadação para a cidade, pois o motivo de tantos turistas viajarem para o litoral é porque gostam da praia e não da sujeira.
A diversão foi momentânea, mas as lembranças do insucesso do passeio ficaram marcadas.
Da próxima vez, quem sabe, um passeio para algum sítio seja muito mais prazeroso e saudável também.

Volta

Manogon na área para mais um ano de muita atividade e esperando escrever sempre mais.

Abraços.

Ótimo ano a todos.