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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Blog Coletânea Artesanal

Olá, amanhã (30/11) sairá um poema meu - Querença - no blog Coletânea Artesanal, o qual publica quinzenalmente obras (poemas, contos e afins) de diversos autores. Prometo colocá-lo depois aqui. O blog é organizado pela Lunna Montez'zinny, descoberta que a blogosfera me concedeu, amante das letras e dos sonhos, como todos os escritores que libertam seus espíritos para conhecerem o mundo e expressá-lo através dos sentimentos colhidos, falando mais que palavras, ocupando mais que o espaço deixado para seus corpos, explorando o universo dos apixonados com a luz de suas almas.

Confiram e comentem. Além de assíduo leitor, provavelmente, entrarei para o rol dos colaboradores dessa empolgante e importante iniciativa.

Abraços.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Conquista

Para a "felicidade" e "evolução" da espécie, o ser humano ampliou seus horizontes, saiu de sua “casca” e conquistou o mundo; aprendeu a caçar, plantar e comer coisas diferentes; impôs sua supremacia intelectual aos animais e os dominou, fazendo deles mais que animais comuns, objetos casuais, serventes de bons e maus propósitos, para matar a fome vociferante e primata de seu físico e a fome ainda mais irracional de poder; também aprendeu a fazer construções e buscar conforto, mas sem respeitar a natureza e tudo que o cercava. Assim, ele se espalhou pela terra e pela água, mas sem lembrar que fazia parte delas, sem viver em harmonia com o que o Criador lhe apresentou; ah, e ele não esqueceu daquilo que poderia lhe ser útil, como máquinas de todos os tipos, desde as pequenas, que o ajudaram na lida diária, até as gigantescas, que lhe permitiram a locomoção e o conhecimento de outras terras e até do espaço. Enfim, o ser humano conquistou tudo ao seu redor: terra, água, fogo, ar, fauna, flora, os seres. Buscando uma resposta para sua própria existência, ele não poupou esforços e se tornou mais sábio. Aprendeu vários idiomas, inúmeros costumes, etiquetas mil; fez cálculos que não inimagináveis e inventou coisas que "até Deus dúvida". Ele saiu de si e conquistou a casa, a cidade, o país, o mundo. Sem ter mais para onde ir, saiu do planeta e conquistou o espaço, pisou na Lua, colocou satélites e naves espaciais pela imensidão negra. E, com medo dos outros, ou melhor, dele mesmo, inventou armas e jogos de guerra para se defender (talvez do monstro que urrava dentro de si). Ele conquistou tudo. Tão opressor quanto este bloco monolítico de texto, pesado e esmagador ante a leveza e harmonia da página. O ser humano procurou por toda parte o que Deus guardou como presente para a sua espécie, achando se tratar de algum tesouro material. Até inventou uma corrida ao Santo Graal para representar tal busca. Porém, só esqueceu de procurar no lugar mais óbvio e que só um Mestre saberia camuflar com tal maestria. O ser humano só não conquistou a si mesmo e não olhou para dentro de si para achar a felicidade. O tesouro maior e que não se conquista à força e nem se toma é o amor que cada um traz em seu eu e que pode compartilhar com os outros. Esse é o verdadeiro poder, mas não de um ser só. Ele só funciona quando em contato com outros. Sua química extrapola o seu recipiente e transborda para toda a humanidade, para toda a galáxia. Mas isso ainda é uma descoberta que pode demorar anos, séculos, talvez milênios, até que o ser humano possa ter conhecimento dela. Isso se ele durar tanto assim. Se a natureza, o mundo, o universo e tudo o mais não se voltarem contra ele. Se ele não receber o revés de tudo que causou e que transformou, como zumbis, misto de Frankstein e a Volta dos Mortos Vivos, ávidos para degustar o que o ser humano mais preza: seu intelecto, seu ego.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Introspecção

Estava cansado
Parei
Ouvi o barulho do mundo
Isolei
Ouvi o país clamando
Concentrei
A cidade resmungava
Aquietei
O bairro ainda falava
Imobilizei
As buzinas me atrapalhavam
Suspirei
Meu corpo ainda mexia
Respirei fundo
E consegui ouvir meu corpo
As batidas do coração
Minha respiração
O sangue bombeando
Senti o calor
E a vida em volta de mim
E já não mais me cansava
Eu era a minha força

Manoel Gonçalves

sábado, 24 de novembro de 2007

Fatos, atos e ratos

Fatos, segundo Houaiss, "aquilo que acontece por causas naturais ou não, dependentes ou independentes da vontade humana; ocorrência."

Atos: "exercício da faculdade de agir ou o seu resultado; aquilo que se faz ou se pode fazer; ocasião em que é feita alguma coisa; procedimento, conduta; exercício de um direito ou dever."

Ratos: "designação comum dos roedores da família dos murídeos, como o rato-preto e a ratazana, atualmente disseminados por todo o mundo, responsáveis pela destruição de grandes quantidades de alimento e pela transmissão de diversas doenças, como a peste bubônica; pessoa que pratica furtos em locais públicos, tais como igrejas, feiras etc.; ladrão, ratazana; Regionalismo: Brasil - pessoa trapaceira, tratante; Regionalismo: Brasil. Uso: informal - agente de polícia; rato-branco."

Os fatos que acontecem diariamente e que nos deixam como lobos, uivando solitariamente para a enigmática noite sombria, sem compreender os seus abismos, seu canto fúnebre, seu visual lúgubre. Fatos cinzentos, nebulosos, densos, que impedem de enxergar a beleza das estrelas que brilham nas pessoas, o encanto de um sorriso sincero e de uma noite enluarada. Fatos bárbaros, como a presa ensangüentada e agonizante, que choca pela imagem grotesca, expondo ali, banhadas em próprio líquido da vida, misturadas à terra umedecida, as vísceras do que um dia foi um animal viril.

Atos irracionais, ações desmedidas do homem-besta-fera, que impõe ao outro sua condição de supremo juiz, inquisidor da moral não vivida e do exemplo não dado. Ser pensante, mas que pensa única e exclusivamente na obtenção de seu próprio glamour, do reconhecimento de sua própria força ante os fraquejantes opositores. Quem é você, estranho ser? O que faz que o coloca acima das coisas da vida? Por que se acha no direito de pensar que só você tem direitos? E os seus deveres? E as suas obrigações? De ser o ser realmente pensante, pertencente ao grupo, membro influenciador e influenciado por tudo que acontece a ele. Por que pensa que pode brincar com a vida alheia? Por que dizer aos outros o que ser e o que fazer, se não sabe sequer quem é e o que quer de sua vida? Atos bobos, hipócritas, medíocres. Atos por atos. Sem noção, conexão, razão ou perdão.

Ratos são seres desprezíveis, que em sua existência acham sentido a tudo que fazem, justificam suas ações e os fatos decorrentes delas, mas que, para o restante dos seres, devido aos malefícios causados por suas doenças e podridão, não passam de criaturas aniquiláveis. Claro que a natureza não funciona assim. Claro que não se jsutifica um ato errado, um fato medonho, com outros de igual desprezo das condições igualitárias, do bem da vida. Mas que os ratos são perseguidos e merecem o justo castigo por suas ações bestiais, ah, isso sem dúvida que sim.

Essa forma de escrever velada é uma tentativa de não deixar estourar as minhas veias e impedir que saia a última gota do líquido que me mantém quente, ser que busca o calor e que aquece as pessoas com quem convive, que se alimenta do puro néctar da flor da bondade, mas igualmente não consegue respirar com a fétida e irrespirável fumaça negra dos corações mórbidos. Por vezes, sinto cansar os batimentos cardíacos com tanta falta de amor ao próximo latente em nossa sociedade. Aí preciso pisar no freio, sair um pouco dessa penumbra, correr pelas savanas e adentrar a mata, sentir o sol, o barulho das árvores, o frescor das águas, a maciez da terra molhada, a vida na natureza. E assim, voltar renovado, renascido, pronto para as intempéries do cotidiano.

Essa é a minha forma de protestar por tanta falta de respeito à vida, por tanta violência, pelas meninas-mulheres que foram e são lançadas nos cárceres, forçadas a se prostituir e se despir de sua condição de ser humano, só para satisfazer um prazer macábro daqueles que deveriam ser seus pares, parceiros em trocas de experiências da arte de viver.

Abraços.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Transparência

Um olhar diz tudo
Um olhar revela a pessoa
Um olhar diz “eu te amo”
Mas também, “estou com raiva”
E em seguida, “me perdoa, fica comigo”

Sob a cortina da falsidade
Por mais que se esconda a intenção
Por mais dissimulado que possa ser o gesto
Sempre existirá o olhar
E ele não mente
Diz mil palavras num único instante

Mas ele não tem sentimentos
Ama ou odeia com a mesma facilidade
Agrada ou fere na mesma intensidade
Aprova ou rejeita com igual velocidade

Ele apenas reflete
A pureza da pessoa que o possui

Assim são seus olhos
Alegres, arregalados e transparentes
Pois todo mundo consegue enxergar,
Mesmo que queira esconder,
No brilho da aura reluzente

A pessoa maravilhosa que é você

Manoel Gonçalves

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Erosão

por Manoel Gonçalves

Água cristalina
Há tempos muito bebida
Matando a sede latente
Da mente, do corpo, de vida

Água cristalina na fronte
Não desce mais as encostas
A pele é seca e suja
Pelas agruras impostas

Água purificada
Sumiu, subiu, evaporou
Viajou para um céu sombrio
De onde não mais voltou

A água regava o jardim
Fazendo brotar a emoção
Sobrou somente seu rastro
Erosão do que havia em mim

Assim sigo, seco, quebradiço
Sem fé, esperança ou viço
Retirante dos meus pensamentos
Ambulante letrado em lamentos
Daquilo que não mais possui

Lembrança do que outrora fui

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Fascinação

Tarde fria e chuvosa. As lágrimas das nuvens caem sem se importar com nada. Nem a mulher que sai correndo, protegendo o cabelo que acabou de arrumar no salão de beleza, nem a senhora desesperada com a roupa no varal, nem o homem que escorregou na calçada deslisante por estar molhada, nada parece importunar as lamúrias do céu. Aqui, ilhado em minha sala, seja pela chuva que me impede de dar uma volta, seja pela tela em branco que me lembra o dever de escrever a história esquematizada no cérebro, só percebo o frio por causa do ventilador ligado, erro bobo de quem ia ligar a luz e apertou o botão errado, sem sequer se dar ao trabalho de voltar o corrigir o equívoco. De resto, o calor que me toma, arrebata meu corpo e o envolve como uma membrana que protege a célula, não deixa que eu me importe com o céu cinzento e triste. Meus pensamentos transbordam minha mente. Meu corpo, apesar dos quilos excedentes que o fazem ter um tamanho um pouco acima do desejado, não é capaz de suportar e barrar as idéias, que fogem de mim, esgueirando-se pelas entranhas e escapulindo pelos poros. Elas tomam conta da minha atenção e, como uma marionete, sou conduzido pelo imaginário, viajo pelo arco-íris do incerto e repouso na relva macia do colo da minha amada. Ali, ninado e mimado como um bebê, posso sentir esquentar minha pele com o fogo latente de suas carícias, coroado pelo brilho de seus olhos e a pureza de seu riso. Fecho os olhos e o tilintar irritante das hélices do ventilador me obriga a voltar à realidade, na mesma sala fria, da mesma tarde triste e chuvosa. Mas o calor ainda continua comigo, confortando-me na certeza de que, em um espaço breve de tempo, estarei de fato nos braços da mulher amada, envolto em seu fascínio.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Sucata brincante

Como escrevi em A Arte faz sorrisos no Blog do Desabafo de Mãe, na semana passada eu tive o prazer de desenvolver algumas atividades artísticas com minhas filhas e meu afilhado. Com elas, pintei quadros, sem pré-concepções, sem determinar nada, deixando que elas fizessem o que e como quisessem, incluindo pintura a dedo (quer dizer, para a nenê, quase a mão inteira).

Essa é uma coisa que vez ou outra faço com elas. A Bia já está costumada, mas para a Sofia foi a primeira vez. Adorou! Sinto que pedirá para repetir a façanha inúmeras vezes. Particularmente, não vou detestar, pois, apesar da correria cotidiana, é bom parar de vez em quando e mergulhar no universo das crianças (e dos artistas). Ah, aqui vale um parênteses: quando seus filhos estiverem pintando ou desenhando, por favor, não espere que eles façam a árvore perfeita, a pessoa perfeita, ou seja, se a pessoa é verde, a nuvem azul, a árvore tem uma aparência estranha, não se preocupe em corrigi-los. É uma forma deles se expressarem, o jeito deles, uma percepção que eles têm e, em alguns casos, se você toda hora interferir, pode inibi-los e começar a criar uma barreira para que eles soltem a imaginação e descubram sozinhos as coisas ao redor. A evolução acontece naturalmente nesse caso. E a nós, como pais, cabe o incentivo, a ajuda quando solicitada, as explicações e a pesquisa de como fazer. E aí, se com o passar do tempo, percebermos que têm aptidões para a coisa e quisermos que aprendam mais, vale a busca do aprimoramento da técnica.

Voltando às atividades, com o meu afilhado fiz um robô usando sucatas. Só a idéia de fazer o seu próprio robô o deixou radiante. Queria fazer logo, torcendo para chegar logo o feriado. Na sexta do feriado ele chegou cedo em casa e, a cada peça colocada, vibrava e fazia cara de satisfeito. A grosso modo, não é um robô sofisticado, mas atribuo a satisfação mais à ação em si, a fabricação do próprio brinquedo (como fazíamos quando eu era moleque, pois juntávamos pedaços de brinquedos velhos ou restos de madeiras para montar coisas “novas”). O robô pode durar alguns minutos ou ficar guardado um bom tempo, mas os momentos que a gente partilhou ficarão por um longo tempo e a imagem do sorriso aberto quando ele viu o robô pronto, não esquecerei.

Nem todos curtem fazer isso, mas para quem quiser, segue a relação do material que usei (o qual pode ser substituído por qualquer outra coisa que você achar que dá certo).

Material:
• 2 cones pequenos de linha de costura (pode ser o cilindro de papelão do papel alumínio, pedaço de cano ou conduíte) para os braços;
• 2 cones médios de linha de costura (idem) para as pernas;
• 1 banda de bola de isopor (encontrada nas papelarias);
• 1 barra cilíndrica de isopor (ou mangueira velha, conduíte, ou qualquer outra coisa que sirva para fazer as juntas);
• 2 fundos de garrafa de refrigerantes (caçulinha);
• 2 botões grandes para os olhos;
• 1 botão médio para o nariz;
• 1 caixa pequena de sapato ou papelão ondulado para fazer uma caixa pequena para o corpo;

• 1 hélice (daquelas de brinquedinho de sacola de aniversário);
• Elástico grosso (daqueles de roupa);
• Cola branca ou para isopor ou cola quente
• Tinta (a que preferir: guache, plástica, metálica – se for usar isopor, só não serve de spray, pois além de ter um cheiro forte para as crianças, corrói o isopor);
• E os apetrechos que quiser (eu usei uns parafusos com pequenas carretilhas, daqueles que se pendura varal de teto, e outras coisas que grudei no robô).

Não descobri a solução dos problemas do mundo, não fiz nada inovador, também não quero dizer que fiz o super robô (nem era essa a intenção). É apenas uma sugestão. Quem se sentir com vontade de fazê-la, boa sorte e divirta-se muito com as crianças. É o que vai valer a pena.

Abraços.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O problema é da pomba!

Aceitando o convite da Samantha para a Blogagem Coletiva Um Apelo à Paz na Terra, organizada pelo Lino Resende.

Quando se fala em paz, pensa-se logo em algo bom, calmo, sereno, que deixa o ser humano mais lívido, capaz de ouvir seus pensamentos e discernir entre as coisas boas e más. Mas também, por associação de idéias, vêm à mente as suas antíteses: guerra, violência, perturbação, balbúrdia. Não são idéias complementares, mas não há como dissociá-las.

O que também ocorre quando se fala em paz é lembrar de seu símbolo mais forte: a pomba. Bela, branca, quase um chester (quer dizer, eu nunca vi um - alguém aí já viu?) pelo tamanho do peito estufado, carregando sua bandeira verde em forma de galho no bico reluzente. Pombas! (Desculpem o infame trocadilho) Alguém já prestou atenção nas pombas, as que estão ao nosso alcance. São sujas, parecem ratos com asas, comem qualquer lixo, não se respeitam porque estão sempre se pegando para comer as migalhas, se amontoam em bandos, sem falar na mira infalível quando sobrevoam pessoas e carros.

O conceito de paz no mundo deve estar distorcido por causa desse tipo de pomba que eu citei. Só pode ser. As pessoas acabam se reunindo em bandos, não se respeitam, brigam para juntar cada um as suas migalhas (quando não lutam para tomar do outro), são obrigadas a comer qualquer coisa, às vezes porcarias que são jogadas nos alimentos, tornam-se sujas (nem sempre por fora, mas por dentro são encardidas de tanta podridão) e vis como ratos (as asas ficam por conta dos aparatos tecnológicos usados para sobrepujar outros semelhantes). A única coisa que parece diferir nessa comparação maluca é que as pombas não usam suas miras nelas mesmas, ao contrário do ser humano, que, ao menor sinal de que não serão saciados em sua ganância, partem logo para as armas e suas miras cada vez mais certeiras.

É óbvio que essa é uma metáfora simplificada para um problema sério e complexo, que não tem nada de simples em sua resolução. A paz é conseqüência de respeito, empatia, amor (não só falado e escrito, mas praticado), harmonia, humildade e tantas outras coisas que possam ser listadas aí. Eu ia escrever tolerância, mas lembrei de um post de um amigo meu, Walter Tierno, no texto Ts: primeiro T (Tolerância). Mesmo que não se concorde com tudo que ele disse, mas o ponto de vista é interessante e tem a ver com o tema da paz.

Como bem disseram as meninas nos links abaixo, a paz tem de estar presente em nós mesmos, tem de ser uma filosofia de vida (muito embora existam momentos em que é preciso contar até cem ou mil para não pensar ou fazer besteiras que nada resolverão). Mas ela tem de ser vivenciada para que se exijamos do outro o respeito à nossa posição e a reciprocidade em intenções e ações. Sem a aplicação em situações básicas no dia-a-dia, como acordar bem consigo mesmo, não descontar seus fracassos e angústias nos outros, usar seu poder de relacionamento para fazer amigos e partilhar sabedoria (para evolução própria e do grupo), respeitar limitações e incentivar o crescimento constante, conhecer e respeitar qualquer um, fica difícil pensar num mundo mais pacífico, fica complicado encostar a cabeça no travesseiro e dormir sem preocupações.

E a pomba continuará voando sobre nossas cabeças, mas cuidado, pois um bombardeio desses tira a paz de qualquer um. Nem adianta pensar que é sinal de sorte.

Blogagem Coletiva Paz no Terra:
Paz na Terra, por Sueli Sueishi

A paz começa em nós mesmos, por Aline Dexheimer

Blogagem Coletiva pela Paz no Mundo, por Adriana Fischer

A paz invadiu meu coração, por Samantha Shiraishi

Abraços.

O vampiro atacou a vaca

Hoje, replico aqui o post que fiz no Blog do Desabafo de Mãe sobre o leite adulterado. Mais do que desrespeitado como consumidor, estou revoltado como pai. Segue o texto:


O Vampiro atacou a vaca

- Hein! Como assim? Mais um caso como aquele do “chupa-cabra”? É piada, né?
- Não, infelizmente não.
- Mas como foi isso?
- Bom, na verdade, não é nenhum caso de documentário do Discovery Channel. E o vampiro aqui não é aquele ser mitológico (imortalizado na obra de Bram Stoker, Drácula). É o vampiro do mais vil capitalismo, da ganância do ser humano. E ele não atacou propriamente a vaca, mas o que ela produz, o leite.
- Mas o vampiro não gosta de sangue?
- Sim, mas esse gosta de grana. E, para obtê-la, não mede esforços nem se importa com ética ou saúde das pessoas.

Triste. Simplesmente revoltante e lamentável ver notícias como as que eu coloquei os links abaixo. Fatos assim fazem com que eu duvide da bondade e capacidade de viver em grupo (e se importar com o bem-estar desse mesmo grupo) do ser humano.

Não sou tão adepto às comemorações do Halloween, pois gosto de cultivar coisas da nossa cultura, assim como apreciar suas histórias sempre pitorescas, mas também não ignoro sua influência em nosso dia-a-dia (como bem disse a Simone em seu texto Travessuras ou Gostosuras?). Resolvi aceitar a sugestão da Simone e fazer um paralelo do Dia das Bruxas com as histórias horripilantes do leite.

Escrevo como representante dos pais e mães que se preocupam com a saúde de seus filhos e com os alimentos ingeridos, e também como um pai revoltado, indignado com tanta falta de decência, com a infestação de pessoas inescrupulosas.

Minha filha mais nova, Sofia, tinha intolerância à proteína do leite. Desde que parou de mamar que a briga para adaptar a alimentação às necessidades dela foi intensa. Após um longo tratamento, o médico autorizou a ingestão de leite de vaca. Depois de muitos testes, a marca que menos deu efeitos colaterais (ressecamento ou diarréia) foi justamente a Parmalat. Estávamos tranqüilos até a semana passada. Mas a notícia sobre o leite adulterado, e posteriormente sobre o queijo, tirou nosso prumo e agora nos vemos novamente às voltas com os testes das marcas, para achar outra que não cause tantos problemas.

Se não fosse real, seria praticamente inacreditável que um empresário fizesse algo ilegal (e imoral) com seu produto somente para obter maior lucro e reduzir os custos de produção. É inumano, bestial. Será que essas pessoas fazem o mesmo em suas casas? Será que eles alimentam seus filhos com lixo, com coisas estragadas ou com produtos nocivos na composição? Eles teriam coragem de consumir o próprio produto? Claro que não, né! Afinal, com o dinheiro que ganham nos tapeando, devem comprar só coisas de primeira linha, talvez até somente os importados.

Não quero generalizar, mas se não podemos confiar nem no alimento básico, que a grosso modo, não tem um processo de produção tão complexo, como é que poderemos confiar em qualquer outro alimento, até os mais elaborados? Preciso alimentar minhas filhas, assim como qualquer pai ou mãe, mas como saber se as outras marcas também não fazem alguma coisa errada ou se são vítimas de produtores safados? Não merecemos ou podemos ser vítimas desse tipo de gente. Já bastam outras preocupações que povoam nosso cotidiano. Não é justo que tenhamos que engolir essa podridão, regada a muito leite e queijo podres.

É imprescindível que as autoridades competentes (ou que deveriam ser) tomem atitudes severas, tanto para punir tais produtores (nesse ponto sou radical, tirar a licença para fabricação) e inibir qualquer tipo de ação futura que seja igualmente abominável e criminosa. O texto com o vampiro foi só uma brincadeira, e diria até uma injustiça com o próprio, pois até o monstro da história parecia ter princípios. Já os monstros reais não têm nada disso. Aliás, valores, princípios, ética, moral, respeito, solidariedade, são coisas essenciais a qualquer um, porém, ainda mais necessários para quem vai fornecer produtos e serviços a outras pessoas. Seja comercial ou não, o nome já diz, é uma relação. Relacionamento é construído com pessoas e para isso, tem de se colocar no lugar do outro (empatia) e produzir o que atenderá as necessidades latentes, não empurra qualquer troço de qualquer jeito. Não queremos resto ou porcarias, queremos o que é bom e na medida certa. Mas não quero ser injusto. Esses seres (que estão distantes do humano) estão na contramão das tendências administrativas e de responsabilidade socioambiental difundidas no mundo dos negócios. Se eles soubessem ao menos um décimo dessa lição, saberiam que não se pode envenenar o lago de onde se tira a água para sobreviver.

Desculpem a revolta e o texto longo, mas o leite me faz mal e o queijo estava engasgado na garganta. Eu tinha de vomitar tudo isso.

Abraços e até quarta.

Links das matérias:
Leite adulterado era vendido para Parmalat e Calu, diz PF

Operação da PF e Procuradoria prende 26 acusados de adulterar leite em MG

Quadrilha usava soda cáustica em leite, diz PF

'Nossas vacas não produzem soda cáustica', diz produtor

Depois do leite, PF desmonta esquema de fraude com queijo. Três pessoas são presas

Queijo recolhido em MG tinha marcas diversas Para PF, fraude em queijo pode ter proporção nacional