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sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Retalhos do dia

Cheiro de cimento, pó, areia e massa fresca. Escada suja, chão rústico, paredes inacabadas, blocos espalhados, desconforto pela falta de espaço na escada estreita. A reforma das muretas e do piso vai demorar. A escada está suja demais. Os pedreiros não limpam. Fica perigoso subir ou descer com crianças e bolsas. Reclamo ao síndico. Ele conversa ao longe com outro morador que sequer teve o trabalho de descer o “campo de batalha”. Tudo vai se resolver, vou pedir para eles varrerem quando saírem, promete o síndico. O cheiro do pó toma conta da casa.

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Trem lotado, corpo cansado, cabeça cheia (de preocupações e idéias), a barriga ronca, a fome aperta. Os olhos querem se fechar. O balanço do trem embala os passageiros como em um berço, mas a lotação não deixa o sono chegar. Empurrões daqui, criança chorando dali, perfume demais, desodorante que perdeu a validade. Acha-se de tudo. Ao lado, duas meninas falam sobre suas aventuras amorosas a quem quiser ouvir, programam o MP3 no celular – um chiado inaudível, funk e rap. Para competir, três rapazes conversam esganiçadamente, ligam o celular também, com o volume no máximo. Só me resta torcer para chegar logo a estação que vou descer, pegar o fone de ouvido e ligar meu celular para ouvir o som que gosto. Apesar do volume, sinto-me melhor do que estava antes, mais relaxado e fora da disputa de quem queria só chamar a atenção. Mesmo assim, vez ou outra, sinto uns empurrões e ouço alguns comentários irrelevantes.

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O cachorro late sem parar. Ele só fica valente quando está do lado de dentro do quintal. Quando pula o muro para a rua fica manso, todo encolhido na calçada. O canto dos pássaros, tanto perto quanto ao longe, traz um pouco de paz. Durante o dia todo, um som irritante na rua ao lado, onde funciona uma funilaria. Vez ou outra se escuta disparos dos alarmes. Automóveis cruzam a avenida que não fica tão distante. Mas o ruído fica quase ensurdecedor quando algum caminhão sobe a rua. A vista da janela é espetacular. O pôr-do-sol é um show à parte. Mesmo escondido entre prédios e casas cinzentas, ele transmite quietude e paz de espírito, auxiliado pela brisa morna que rompe o céu, bailando entre os obstáculos.

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Quase meio-dia. A fome, só para variar, é companheira desde as 11 horas. Ainda mais hoje que tomei café da manhã muito cedo. O cheiro da comida invade toda a casa e toma conta do escritório. Alguém grita “tô com fome”, outro suspira, um outro levanta, disfarça, ameaça descer as escadas em direção a cozinha, volta e senta. Eu tomo água para tentar despistar o estômago. A espera é árdua. O almoço só ficará pronto ao meio-dia e meia. Até lá, só resta o trabalho e a boca salivando, sem falar naquela famosa sensação de vazio.

POESIA

A poesia é um grito silencioso, às vezes irradiante como o
brilho das estrelas, às vezes perdida na escuridão da alma.
Vez ou outra estoura, rompe o horizonte e as barreiras,
assim, seu som se expande ao infinito.
Porém, não importa o quão alto se grite, ela é somente
compreendida pelos sensivelmente loucos ou pelos
eternamente enfeitiçados.
Feitiço que rasga a carne, calcifica-se no osso e
explode no espírito, tornando impossível a omissão dos
estilhaços deste ser possuído pela magia do sentimento.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Que estranho, que esquisito!

O relógio marca quinze para as seis da madrugada. Subitamente o telefone toca, ecoando pela casa adormecida o seu grito histérico. Levo um susto. Quem será? Por acaso não sabem que as pessoas precisam dormir? É, definitivamente acho que não. Aliás, em situações normais, pessoas “normais” devem dormir. Mas não foi o que me aconteceu durante toda a noite, onde a insônia cobrava minha atenção e me empurrava em abismos imaginários para afogar-me em pensamentos desconexos. O toque do telefone me tira do transe. Saio cambaleante e ainda com sono, tropeço na cadeira largada na cozinha durante a noite e agarro o telefone antes de cair a ligação. “Alô!” A voz metálica é cortante: “Serviço despertador da Telefônica informa: cinco horas e quarenta e cinco minutos. Bom dia!” Que raiva, esqueci que tinha programado o despertador no telefone. Parecendo o desenho do Pica-pau, saio me arrastando até o chuveiro, mas não sem conferir o estrago que noite mal dormida fez em meu rosto. Ponho a roupa e tomo, quase em um único gole, o café forte, na esperança que ele me desperte e sirva de antídoto do sono durante todo o dia.

Ligado no piloto automático, entro no carro e sigo para o trabalho. Trânsito lotado, buzina no ouvido, ronco dos escapamentos (os mais barulhentos e chatos são os das motos sem silenciador). É cedo ainda, mas o calor dentro do carro é insuportável. Ah, como seria bom agora um carro com ar condicionado! Na verdade, eu queria estar agora deitado numa rede em uma casa no sítio no alto da montanha. Putz, muito verde, água corrente e gelada, serenata de cigarras, cheiro de terra molhada que me remete à infância e plantas, muitas plantas. Ah, o farfalhar das folhas no entardecer é como um canto hipnótico da sereia, mas em vez de me arrastar às profundezas do oceano, leva-me ao embalo do sono, tal qual um gato aninhado na grama sob o sol. Para forçar a minha concentração, coloco o rádio do carro, mas por algum motivo não o ligo. É como se eu quisesse sintonizar apenas a estação dos meus pensamentos e “ouvir” os sucessos de outrora, como quando a família se reunia na sala em dias de falta de energia e brincava unida, inventando figuras de sombras projetadas na parede pela luz das velas.

Ouço uma buzina forte e um grito de “Acoooorda meu, olha o trânsito. Tá dormindo?” Não havia percebido que os carros se mexiam. Não seria melhor ligar o carro? Mas as lembranças são tantas que nem percebo desviar minha atenção para a mulher do carro ao lado. Engraçado, olho-a, mas não a vejo. Em vez de seu rosto, surgi-me a face de minha primeira e única namorada. Nunca tive muito sucesso mesmo como conquistador, mas o fato é que eu dei sorte mesmo. A namorada virou esposa. E é esse rosto que me acompanha, não só agora, mas o tempo todo. Lembro do tempo em que íamos aos shows de MPB e, duros como sempre, na volta, um sanduíche de mortadela parecia uma iguaria de outro mundo. Tempo em que a idade não pesava e a loucura juvenil nos permitia até dançar em plena rua, como se ouvíssemos nossa música favorita e alçada aos moldes de “nosso tema”. Nesse tempo, as noites não tinham fim e eram sempre enluaradas. Ela, a lua, sempre presente, bonita, como se fosse colocada ali para iluminar os nossos instantes de carinho, era a testemunha das nossas aventuras. Uma luz tênue, acetinada, esfumaçante, sendo ampliada pela neblina noturna.

Caramba! O filho da mãe está sem luz de freio. Quase bati na traseira do desgraçado. Quer saber de uma coisa, é melhor ligar o rádio, ouvir um rock e controlar a minha mente para não fugir em devaneios. O que eu queria mesmo era ir para casa dormir. Ai que sonolência. Vou precisar de outro café. Duplo, de preferência.

Por Manoel Gonçalves

(texto publicado no blog Coletânea Artesanal em 30-11-2007. As edições são quinzenais e vale a pena conferir)

Querença

Do sol o raiar do dia
Da lua a inspiração
O romantismo dos poetas
As carícias dos amantes

Das pessoas a amizade
Da natureza o frescor matinal
O toque morno da brisa
A força contida na terra

Dos olhos da amada o brilho
Das palavras a verdade
A frieza dos céticos
O calor dos estudantes

Da vida um sentido
Da morte um aprendizado
A pureza das crianças
A sabedoria dos idosos

Mas em tudo que quero
Que me serve de alimento
E se transforma ao doar
Desejo sempre amor como sentimento

Manoel Gonçalves


(poema publicado no blog Coletânea Artesanal em 30-11-2007. As edições são quinzenais e vale a pena conferir)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Sexta edição do Coletânea Artesanal

Olá a todos. Como comentei no post anterior, sexta saiu a 6ª edição do Coletânea Artesanal, blog com obras de diversos autores, editado pela Lunna Montez'zinny. Há dois textos meus nesta edição. Ficarei honrado com a sua visita e seus comentários. O blog é editado quinzenalmente e farei o possível para participar de todas as edições.

Abaixo segue um aperitivo, pois o restante está lá, na íntegra, além dos textos dos outros atores, que são muito inspiradores. Boa leitura!


Que estranho, que esquisito!
"O relógio marca quinze para as seis da madrugada. Subitamente o telefone toca, ecoando pela casa adormecida o seu grito histérico. Levo um susto. Quem será? Por acaso não sabem que as pessoas precisam dormir? É, definitivamente acho que não. Aliás, em situações normais, pessoas “normais” devem dormir. Mas não foi o que me aconteceu durante toda a noite, onde a insônia cobrava minha atenção e me empurrava em abismos imaginários para afogar-me em pensamentos desconexos. O toque do telefone me tira do transe. Saio cambaleante e ainda com sono, tropeço na cadeira largada na cozinha durante a noite e agarro o telefone antes de cair a ligação. “Alô!” A voz metálica é cortante..."

Querença
"Do sol o raiar do dia
Da lua a inspiração
O romantismo dos poetas
As carícias dos amantes..."

Grande abraço.

Manoel

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Blog Coletânea Artesanal

Olá, amanhã (30/11) sairá um poema meu - Querença - no blog Coletânea Artesanal, o qual publica quinzenalmente obras (poemas, contos e afins) de diversos autores. Prometo colocá-lo depois aqui. O blog é organizado pela Lunna Montez'zinny, descoberta que a blogosfera me concedeu, amante das letras e dos sonhos, como todos os escritores que libertam seus espíritos para conhecerem o mundo e expressá-lo através dos sentimentos colhidos, falando mais que palavras, ocupando mais que o espaço deixado para seus corpos, explorando o universo dos apixonados com a luz de suas almas.

Confiram e comentem. Além de assíduo leitor, provavelmente, entrarei para o rol dos colaboradores dessa empolgante e importante iniciativa.

Abraços.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Conquista

Para a "felicidade" e "evolução" da espécie, o ser humano ampliou seus horizontes, saiu de sua “casca” e conquistou o mundo; aprendeu a caçar, plantar e comer coisas diferentes; impôs sua supremacia intelectual aos animais e os dominou, fazendo deles mais que animais comuns, objetos casuais, serventes de bons e maus propósitos, para matar a fome vociferante e primata de seu físico e a fome ainda mais irracional de poder; também aprendeu a fazer construções e buscar conforto, mas sem respeitar a natureza e tudo que o cercava. Assim, ele se espalhou pela terra e pela água, mas sem lembrar que fazia parte delas, sem viver em harmonia com o que o Criador lhe apresentou; ah, e ele não esqueceu daquilo que poderia lhe ser útil, como máquinas de todos os tipos, desde as pequenas, que o ajudaram na lida diária, até as gigantescas, que lhe permitiram a locomoção e o conhecimento de outras terras e até do espaço. Enfim, o ser humano conquistou tudo ao seu redor: terra, água, fogo, ar, fauna, flora, os seres. Buscando uma resposta para sua própria existência, ele não poupou esforços e se tornou mais sábio. Aprendeu vários idiomas, inúmeros costumes, etiquetas mil; fez cálculos que não inimagináveis e inventou coisas que "até Deus dúvida". Ele saiu de si e conquistou a casa, a cidade, o país, o mundo. Sem ter mais para onde ir, saiu do planeta e conquistou o espaço, pisou na Lua, colocou satélites e naves espaciais pela imensidão negra. E, com medo dos outros, ou melhor, dele mesmo, inventou armas e jogos de guerra para se defender (talvez do monstro que urrava dentro de si). Ele conquistou tudo. Tão opressor quanto este bloco monolítico de texto, pesado e esmagador ante a leveza e harmonia da página. O ser humano procurou por toda parte o que Deus guardou como presente para a sua espécie, achando se tratar de algum tesouro material. Até inventou uma corrida ao Santo Graal para representar tal busca. Porém, só esqueceu de procurar no lugar mais óbvio e que só um Mestre saberia camuflar com tal maestria. O ser humano só não conquistou a si mesmo e não olhou para dentro de si para achar a felicidade. O tesouro maior e que não se conquista à força e nem se toma é o amor que cada um traz em seu eu e que pode compartilhar com os outros. Esse é o verdadeiro poder, mas não de um ser só. Ele só funciona quando em contato com outros. Sua química extrapola o seu recipiente e transborda para toda a humanidade, para toda a galáxia. Mas isso ainda é uma descoberta que pode demorar anos, séculos, talvez milênios, até que o ser humano possa ter conhecimento dela. Isso se ele durar tanto assim. Se a natureza, o mundo, o universo e tudo o mais não se voltarem contra ele. Se ele não receber o revés de tudo que causou e que transformou, como zumbis, misto de Frankstein e a Volta dos Mortos Vivos, ávidos para degustar o que o ser humano mais preza: seu intelecto, seu ego.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Introspecção

Estava cansado
Parei
Ouvi o barulho do mundo
Isolei
Ouvi o país clamando
Concentrei
A cidade resmungava
Aquietei
O bairro ainda falava
Imobilizei
As buzinas me atrapalhavam
Suspirei
Meu corpo ainda mexia
Respirei fundo
E consegui ouvir meu corpo
As batidas do coração
Minha respiração
O sangue bombeando
Senti o calor
E a vida em volta de mim
E já não mais me cansava
Eu era a minha força

Manoel Gonçalves

sábado, 24 de novembro de 2007

Fatos, atos e ratos

Fatos, segundo Houaiss, "aquilo que acontece por causas naturais ou não, dependentes ou independentes da vontade humana; ocorrência."

Atos: "exercício da faculdade de agir ou o seu resultado; aquilo que se faz ou se pode fazer; ocasião em que é feita alguma coisa; procedimento, conduta; exercício de um direito ou dever."

Ratos: "designação comum dos roedores da família dos murídeos, como o rato-preto e a ratazana, atualmente disseminados por todo o mundo, responsáveis pela destruição de grandes quantidades de alimento e pela transmissão de diversas doenças, como a peste bubônica; pessoa que pratica furtos em locais públicos, tais como igrejas, feiras etc.; ladrão, ratazana; Regionalismo: Brasil - pessoa trapaceira, tratante; Regionalismo: Brasil. Uso: informal - agente de polícia; rato-branco."

Os fatos que acontecem diariamente e que nos deixam como lobos, uivando solitariamente para a enigmática noite sombria, sem compreender os seus abismos, seu canto fúnebre, seu visual lúgubre. Fatos cinzentos, nebulosos, densos, que impedem de enxergar a beleza das estrelas que brilham nas pessoas, o encanto de um sorriso sincero e de uma noite enluarada. Fatos bárbaros, como a presa ensangüentada e agonizante, que choca pela imagem grotesca, expondo ali, banhadas em próprio líquido da vida, misturadas à terra umedecida, as vísceras do que um dia foi um animal viril.

Atos irracionais, ações desmedidas do homem-besta-fera, que impõe ao outro sua condição de supremo juiz, inquisidor da moral não vivida e do exemplo não dado. Ser pensante, mas que pensa única e exclusivamente na obtenção de seu próprio glamour, do reconhecimento de sua própria força ante os fraquejantes opositores. Quem é você, estranho ser? O que faz que o coloca acima das coisas da vida? Por que se acha no direito de pensar que só você tem direitos? E os seus deveres? E as suas obrigações? De ser o ser realmente pensante, pertencente ao grupo, membro influenciador e influenciado por tudo que acontece a ele. Por que pensa que pode brincar com a vida alheia? Por que dizer aos outros o que ser e o que fazer, se não sabe sequer quem é e o que quer de sua vida? Atos bobos, hipócritas, medíocres. Atos por atos. Sem noção, conexão, razão ou perdão.

Ratos são seres desprezíveis, que em sua existência acham sentido a tudo que fazem, justificam suas ações e os fatos decorrentes delas, mas que, para o restante dos seres, devido aos malefícios causados por suas doenças e podridão, não passam de criaturas aniquiláveis. Claro que a natureza não funciona assim. Claro que não se jsutifica um ato errado, um fato medonho, com outros de igual desprezo das condições igualitárias, do bem da vida. Mas que os ratos são perseguidos e merecem o justo castigo por suas ações bestiais, ah, isso sem dúvida que sim.

Essa forma de escrever velada é uma tentativa de não deixar estourar as minhas veias e impedir que saia a última gota do líquido que me mantém quente, ser que busca o calor e que aquece as pessoas com quem convive, que se alimenta do puro néctar da flor da bondade, mas igualmente não consegue respirar com a fétida e irrespirável fumaça negra dos corações mórbidos. Por vezes, sinto cansar os batimentos cardíacos com tanta falta de amor ao próximo latente em nossa sociedade. Aí preciso pisar no freio, sair um pouco dessa penumbra, correr pelas savanas e adentrar a mata, sentir o sol, o barulho das árvores, o frescor das águas, a maciez da terra molhada, a vida na natureza. E assim, voltar renovado, renascido, pronto para as intempéries do cotidiano.

Essa é a minha forma de protestar por tanta falta de respeito à vida, por tanta violência, pelas meninas-mulheres que foram e são lançadas nos cárceres, forçadas a se prostituir e se despir de sua condição de ser humano, só para satisfazer um prazer macábro daqueles que deveriam ser seus pares, parceiros em trocas de experiências da arte de viver.

Abraços.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Transparência

Um olhar diz tudo
Um olhar revela a pessoa
Um olhar diz “eu te amo”
Mas também, “estou com raiva”
E em seguida, “me perdoa, fica comigo”

Sob a cortina da falsidade
Por mais que se esconda a intenção
Por mais dissimulado que possa ser o gesto
Sempre existirá o olhar
E ele não mente
Diz mil palavras num único instante

Mas ele não tem sentimentos
Ama ou odeia com a mesma facilidade
Agrada ou fere na mesma intensidade
Aprova ou rejeita com igual velocidade

Ele apenas reflete
A pureza da pessoa que o possui

Assim são seus olhos
Alegres, arregalados e transparentes
Pois todo mundo consegue enxergar,
Mesmo que queira esconder,
No brilho da aura reluzente

A pessoa maravilhosa que é você

Manoel Gonçalves

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Erosão

por Manoel Gonçalves

Água cristalina
Há tempos muito bebida
Matando a sede latente
Da mente, do corpo, de vida

Água cristalina na fronte
Não desce mais as encostas
A pele é seca e suja
Pelas agruras impostas

Água purificada
Sumiu, subiu, evaporou
Viajou para um céu sombrio
De onde não mais voltou

A água regava o jardim
Fazendo brotar a emoção
Sobrou somente seu rastro
Erosão do que havia em mim

Assim sigo, seco, quebradiço
Sem fé, esperança ou viço
Retirante dos meus pensamentos
Ambulante letrado em lamentos
Daquilo que não mais possui

Lembrança do que outrora fui

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Fascinação

Tarde fria e chuvosa. As lágrimas das nuvens caem sem se importar com nada. Nem a mulher que sai correndo, protegendo o cabelo que acabou de arrumar no salão de beleza, nem a senhora desesperada com a roupa no varal, nem o homem que escorregou na calçada deslisante por estar molhada, nada parece importunar as lamúrias do céu. Aqui, ilhado em minha sala, seja pela chuva que me impede de dar uma volta, seja pela tela em branco que me lembra o dever de escrever a história esquematizada no cérebro, só percebo o frio por causa do ventilador ligado, erro bobo de quem ia ligar a luz e apertou o botão errado, sem sequer se dar ao trabalho de voltar o corrigir o equívoco. De resto, o calor que me toma, arrebata meu corpo e o envolve como uma membrana que protege a célula, não deixa que eu me importe com o céu cinzento e triste. Meus pensamentos transbordam minha mente. Meu corpo, apesar dos quilos excedentes que o fazem ter um tamanho um pouco acima do desejado, não é capaz de suportar e barrar as idéias, que fogem de mim, esgueirando-se pelas entranhas e escapulindo pelos poros. Elas tomam conta da minha atenção e, como uma marionete, sou conduzido pelo imaginário, viajo pelo arco-íris do incerto e repouso na relva macia do colo da minha amada. Ali, ninado e mimado como um bebê, posso sentir esquentar minha pele com o fogo latente de suas carícias, coroado pelo brilho de seus olhos e a pureza de seu riso. Fecho os olhos e o tilintar irritante das hélices do ventilador me obriga a voltar à realidade, na mesma sala fria, da mesma tarde triste e chuvosa. Mas o calor ainda continua comigo, confortando-me na certeza de que, em um espaço breve de tempo, estarei de fato nos braços da mulher amada, envolto em seu fascínio.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Sucata brincante

Como escrevi em A Arte faz sorrisos no Blog do Desabafo de Mãe, na semana passada eu tive o prazer de desenvolver algumas atividades artísticas com minhas filhas e meu afilhado. Com elas, pintei quadros, sem pré-concepções, sem determinar nada, deixando que elas fizessem o que e como quisessem, incluindo pintura a dedo (quer dizer, para a nenê, quase a mão inteira).

Essa é uma coisa que vez ou outra faço com elas. A Bia já está costumada, mas para a Sofia foi a primeira vez. Adorou! Sinto que pedirá para repetir a façanha inúmeras vezes. Particularmente, não vou detestar, pois, apesar da correria cotidiana, é bom parar de vez em quando e mergulhar no universo das crianças (e dos artistas). Ah, aqui vale um parênteses: quando seus filhos estiverem pintando ou desenhando, por favor, não espere que eles façam a árvore perfeita, a pessoa perfeita, ou seja, se a pessoa é verde, a nuvem azul, a árvore tem uma aparência estranha, não se preocupe em corrigi-los. É uma forma deles se expressarem, o jeito deles, uma percepção que eles têm e, em alguns casos, se você toda hora interferir, pode inibi-los e começar a criar uma barreira para que eles soltem a imaginação e descubram sozinhos as coisas ao redor. A evolução acontece naturalmente nesse caso. E a nós, como pais, cabe o incentivo, a ajuda quando solicitada, as explicações e a pesquisa de como fazer. E aí, se com o passar do tempo, percebermos que têm aptidões para a coisa e quisermos que aprendam mais, vale a busca do aprimoramento da técnica.

Voltando às atividades, com o meu afilhado fiz um robô usando sucatas. Só a idéia de fazer o seu próprio robô o deixou radiante. Queria fazer logo, torcendo para chegar logo o feriado. Na sexta do feriado ele chegou cedo em casa e, a cada peça colocada, vibrava e fazia cara de satisfeito. A grosso modo, não é um robô sofisticado, mas atribuo a satisfação mais à ação em si, a fabricação do próprio brinquedo (como fazíamos quando eu era moleque, pois juntávamos pedaços de brinquedos velhos ou restos de madeiras para montar coisas “novas”). O robô pode durar alguns minutos ou ficar guardado um bom tempo, mas os momentos que a gente partilhou ficarão por um longo tempo e a imagem do sorriso aberto quando ele viu o robô pronto, não esquecerei.

Nem todos curtem fazer isso, mas para quem quiser, segue a relação do material que usei (o qual pode ser substituído por qualquer outra coisa que você achar que dá certo).

Material:
• 2 cones pequenos de linha de costura (pode ser o cilindro de papelão do papel alumínio, pedaço de cano ou conduíte) para os braços;
• 2 cones médios de linha de costura (idem) para as pernas;
• 1 banda de bola de isopor (encontrada nas papelarias);
• 1 barra cilíndrica de isopor (ou mangueira velha, conduíte, ou qualquer outra coisa que sirva para fazer as juntas);
• 2 fundos de garrafa de refrigerantes (caçulinha);
• 2 botões grandes para os olhos;
• 1 botão médio para o nariz;
• 1 caixa pequena de sapato ou papelão ondulado para fazer uma caixa pequena para o corpo;

• 1 hélice (daquelas de brinquedinho de sacola de aniversário);
• Elástico grosso (daqueles de roupa);
• Cola branca ou para isopor ou cola quente
• Tinta (a que preferir: guache, plástica, metálica – se for usar isopor, só não serve de spray, pois além de ter um cheiro forte para as crianças, corrói o isopor);
• E os apetrechos que quiser (eu usei uns parafusos com pequenas carretilhas, daqueles que se pendura varal de teto, e outras coisas que grudei no robô).

Não descobri a solução dos problemas do mundo, não fiz nada inovador, também não quero dizer que fiz o super robô (nem era essa a intenção). É apenas uma sugestão. Quem se sentir com vontade de fazê-la, boa sorte e divirta-se muito com as crianças. É o que vai valer a pena.

Abraços.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O problema é da pomba!

Aceitando o convite da Samantha para a Blogagem Coletiva Um Apelo à Paz na Terra, organizada pelo Lino Resende.

Quando se fala em paz, pensa-se logo em algo bom, calmo, sereno, que deixa o ser humano mais lívido, capaz de ouvir seus pensamentos e discernir entre as coisas boas e más. Mas também, por associação de idéias, vêm à mente as suas antíteses: guerra, violência, perturbação, balbúrdia. Não são idéias complementares, mas não há como dissociá-las.

O que também ocorre quando se fala em paz é lembrar de seu símbolo mais forte: a pomba. Bela, branca, quase um chester (quer dizer, eu nunca vi um - alguém aí já viu?) pelo tamanho do peito estufado, carregando sua bandeira verde em forma de galho no bico reluzente. Pombas! (Desculpem o infame trocadilho) Alguém já prestou atenção nas pombas, as que estão ao nosso alcance. São sujas, parecem ratos com asas, comem qualquer lixo, não se respeitam porque estão sempre se pegando para comer as migalhas, se amontoam em bandos, sem falar na mira infalível quando sobrevoam pessoas e carros.

O conceito de paz no mundo deve estar distorcido por causa desse tipo de pomba que eu citei. Só pode ser. As pessoas acabam se reunindo em bandos, não se respeitam, brigam para juntar cada um as suas migalhas (quando não lutam para tomar do outro), são obrigadas a comer qualquer coisa, às vezes porcarias que são jogadas nos alimentos, tornam-se sujas (nem sempre por fora, mas por dentro são encardidas de tanta podridão) e vis como ratos (as asas ficam por conta dos aparatos tecnológicos usados para sobrepujar outros semelhantes). A única coisa que parece diferir nessa comparação maluca é que as pombas não usam suas miras nelas mesmas, ao contrário do ser humano, que, ao menor sinal de que não serão saciados em sua ganância, partem logo para as armas e suas miras cada vez mais certeiras.

É óbvio que essa é uma metáfora simplificada para um problema sério e complexo, que não tem nada de simples em sua resolução. A paz é conseqüência de respeito, empatia, amor (não só falado e escrito, mas praticado), harmonia, humildade e tantas outras coisas que possam ser listadas aí. Eu ia escrever tolerância, mas lembrei de um post de um amigo meu, Walter Tierno, no texto Ts: primeiro T (Tolerância). Mesmo que não se concorde com tudo que ele disse, mas o ponto de vista é interessante e tem a ver com o tema da paz.

Como bem disseram as meninas nos links abaixo, a paz tem de estar presente em nós mesmos, tem de ser uma filosofia de vida (muito embora existam momentos em que é preciso contar até cem ou mil para não pensar ou fazer besteiras que nada resolverão). Mas ela tem de ser vivenciada para que se exijamos do outro o respeito à nossa posição e a reciprocidade em intenções e ações. Sem a aplicação em situações básicas no dia-a-dia, como acordar bem consigo mesmo, não descontar seus fracassos e angústias nos outros, usar seu poder de relacionamento para fazer amigos e partilhar sabedoria (para evolução própria e do grupo), respeitar limitações e incentivar o crescimento constante, conhecer e respeitar qualquer um, fica difícil pensar num mundo mais pacífico, fica complicado encostar a cabeça no travesseiro e dormir sem preocupações.

E a pomba continuará voando sobre nossas cabeças, mas cuidado, pois um bombardeio desses tira a paz de qualquer um. Nem adianta pensar que é sinal de sorte.

Blogagem Coletiva Paz no Terra:
Paz na Terra, por Sueli Sueishi

A paz começa em nós mesmos, por Aline Dexheimer

Blogagem Coletiva pela Paz no Mundo, por Adriana Fischer

A paz invadiu meu coração, por Samantha Shiraishi

Abraços.

O vampiro atacou a vaca

Hoje, replico aqui o post que fiz no Blog do Desabafo de Mãe sobre o leite adulterado. Mais do que desrespeitado como consumidor, estou revoltado como pai. Segue o texto:


O Vampiro atacou a vaca

- Hein! Como assim? Mais um caso como aquele do “chupa-cabra”? É piada, né?
- Não, infelizmente não.
- Mas como foi isso?
- Bom, na verdade, não é nenhum caso de documentário do Discovery Channel. E o vampiro aqui não é aquele ser mitológico (imortalizado na obra de Bram Stoker, Drácula). É o vampiro do mais vil capitalismo, da ganância do ser humano. E ele não atacou propriamente a vaca, mas o que ela produz, o leite.
- Mas o vampiro não gosta de sangue?
- Sim, mas esse gosta de grana. E, para obtê-la, não mede esforços nem se importa com ética ou saúde das pessoas.

Triste. Simplesmente revoltante e lamentável ver notícias como as que eu coloquei os links abaixo. Fatos assim fazem com que eu duvide da bondade e capacidade de viver em grupo (e se importar com o bem-estar desse mesmo grupo) do ser humano.

Não sou tão adepto às comemorações do Halloween, pois gosto de cultivar coisas da nossa cultura, assim como apreciar suas histórias sempre pitorescas, mas também não ignoro sua influência em nosso dia-a-dia (como bem disse a Simone em seu texto Travessuras ou Gostosuras?). Resolvi aceitar a sugestão da Simone e fazer um paralelo do Dia das Bruxas com as histórias horripilantes do leite.

Escrevo como representante dos pais e mães que se preocupam com a saúde de seus filhos e com os alimentos ingeridos, e também como um pai revoltado, indignado com tanta falta de decência, com a infestação de pessoas inescrupulosas.

Minha filha mais nova, Sofia, tinha intolerância à proteína do leite. Desde que parou de mamar que a briga para adaptar a alimentação às necessidades dela foi intensa. Após um longo tratamento, o médico autorizou a ingestão de leite de vaca. Depois de muitos testes, a marca que menos deu efeitos colaterais (ressecamento ou diarréia) foi justamente a Parmalat. Estávamos tranqüilos até a semana passada. Mas a notícia sobre o leite adulterado, e posteriormente sobre o queijo, tirou nosso prumo e agora nos vemos novamente às voltas com os testes das marcas, para achar outra que não cause tantos problemas.

Se não fosse real, seria praticamente inacreditável que um empresário fizesse algo ilegal (e imoral) com seu produto somente para obter maior lucro e reduzir os custos de produção. É inumano, bestial. Será que essas pessoas fazem o mesmo em suas casas? Será que eles alimentam seus filhos com lixo, com coisas estragadas ou com produtos nocivos na composição? Eles teriam coragem de consumir o próprio produto? Claro que não, né! Afinal, com o dinheiro que ganham nos tapeando, devem comprar só coisas de primeira linha, talvez até somente os importados.

Não quero generalizar, mas se não podemos confiar nem no alimento básico, que a grosso modo, não tem um processo de produção tão complexo, como é que poderemos confiar em qualquer outro alimento, até os mais elaborados? Preciso alimentar minhas filhas, assim como qualquer pai ou mãe, mas como saber se as outras marcas também não fazem alguma coisa errada ou se são vítimas de produtores safados? Não merecemos ou podemos ser vítimas desse tipo de gente. Já bastam outras preocupações que povoam nosso cotidiano. Não é justo que tenhamos que engolir essa podridão, regada a muito leite e queijo podres.

É imprescindível que as autoridades competentes (ou que deveriam ser) tomem atitudes severas, tanto para punir tais produtores (nesse ponto sou radical, tirar a licença para fabricação) e inibir qualquer tipo de ação futura que seja igualmente abominável e criminosa. O texto com o vampiro foi só uma brincadeira, e diria até uma injustiça com o próprio, pois até o monstro da história parecia ter princípios. Já os monstros reais não têm nada disso. Aliás, valores, princípios, ética, moral, respeito, solidariedade, são coisas essenciais a qualquer um, porém, ainda mais necessários para quem vai fornecer produtos e serviços a outras pessoas. Seja comercial ou não, o nome já diz, é uma relação. Relacionamento é construído com pessoas e para isso, tem de se colocar no lugar do outro (empatia) e produzir o que atenderá as necessidades latentes, não empurra qualquer troço de qualquer jeito. Não queremos resto ou porcarias, queremos o que é bom e na medida certa. Mas não quero ser injusto. Esses seres (que estão distantes do humano) estão na contramão das tendências administrativas e de responsabilidade socioambiental difundidas no mundo dos negócios. Se eles soubessem ao menos um décimo dessa lição, saberiam que não se pode envenenar o lago de onde se tira a água para sobreviver.

Desculpem a revolta e o texto longo, mas o leite me faz mal e o queijo estava engasgado na garganta. Eu tinha de vomitar tudo isso.

Abraços e até quarta.

Links das matérias:
Leite adulterado era vendido para Parmalat e Calu, diz PF

Operação da PF e Procuradoria prende 26 acusados de adulterar leite em MG

Quadrilha usava soda cáustica em leite, diz PF

'Nossas vacas não produzem soda cáustica', diz produtor

Depois do leite, PF desmonta esquema de fraude com queijo. Três pessoas são presas

Queijo recolhido em MG tinha marcas diversas Para PF, fraude em queijo pode ter proporção nacional

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Educar é participar

Semana passada participei de um Fórum de Educação na escola que minha filha estuda. Uma iniciativa muito boa da escola, que reuniu na abertura entidades das mais variadas vertentes da área. Teve início na sexta com esse debate e depois uma palestra sobre os sistemas de avaliação das escolas. O Fórum continuou no sábado com diversos temas, divididos nas salas por assuntos.

Não vou entrar em detalhes aqui, mas o mais importante para relatar é a iniciativa em si. Um evento como esse movimenta o corpo docente, os alunos, demais funcionários, pais e mães, estudiosos da área e, principalmente, a comunidade. A comunidade é quem dá sentido à existência das instituições de ensino e também é a que é fortemente influenciada por elas. Então, nada mais coerente que unir essas forças, levar a comunidade para as salas de aula (não só para estudar, mas para debater sobre as práticas de ensino) e levar os ensinamentos da escola para a melhoria dos cidadãos e evolução da região. É uma sinergia que merece ser reconhecida e alardeada a todos os lados, para que outras ações dessa natureza possam também ser programadas e colocadas em prática.


Tive a oportunidade e orgulho de ter participado da comissão organizadora. Digo orgulho porque não me limitei a simplesmente ir à escola da minha filha e apontar falhas, reclamar sem parar e dizer que as coisas não estão como eu quero. Mesmo porque essa não seria a verdade absoluta. Mas eu participei de um encontro de pessoas realmente interessadas em fazer a diferença e preparar as futuras gerações para uma atitude mais consciente com o planeta e com o outro. Nenhum mágico presente para mudar a realidade com apenas um toque ou ilusão de ótica. Pessoas simples. Pais, mães, professores, estudantes, todos com apenas um objetivo: adequar a educação à complexidade da vida moderna e para a construção de indivíduos participativos, desde a primeira instituição que é a família até a vida em grupo em diversos ambientes, integrando os valores passados em casa e na escola às atitudes. Cidadãos mais educados, participativos, coerentes, éticos, íntegros e com espírito empreendedor, podem mudar uma comunidade, uma região, uma cidade, estado, país, o mundo. É um trabalho de formiguinha, mas que, unindo forças, transforma-se numa corrente forte e difícil de partir.


Como diz uma música do Raul Seixas: “Sonho que se sonha só é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade”.
Como sabem, escrevo para o Desabafo de Mãe, o qual está temporariamente fora do ar, mas volta no começo de novembro, muito mais funcional e com mais coisas relevantes para a educação dos filhos. Mas enquanto isso você pode acessar o Blog do Desabafo de Mãe (onde escrevo também toda quarta), que traz assuntos dos bastidores do site e da blogosfera, além de dicas culturais também e eventos para os pais.


Abraços.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A multiplicação do lixo

Hoje, ouvindo o noticiário pelo rádio, o jornalista fez uma entrevista para elucidar uns dos inúmeros boatos que surgem via web e que se espalham rapidamente pela rede de contatos, superlotando as caixas de e-mails de todas as pessoas. Os famosos spams e correntes, assim como as mensagens polêmicas e tantas outras que são atribuídas a pessoas famosas (e que são rechaçadas depois pelos supostos autores, isentando-os de qualquer participação na elaboração de tais franksteins) já são conhecidos por todos, infelizmente. Há quem goste, mas não há nada mais chato que abrir a conta de e-mail e ver que de 20 mensagens (para ser modesto) recebidas mais da metade é lixo eletrônico.

Álbum de fotos picantes, fotos novas, celulares de graça, sorteio de prêmios, leis para extinção do 13º salário, remédios que prejudicam mais do que ajudam, correntes e mais correntes (do bem, do mal, santas, enriquecedoras etc.), pessoas que precisam de dinheiro para diversas finalidades, entre outras coisas. Meu, haja espaço na caixa de correio. 2 gigas é pouco. E haja tempo para ficar excluindo todo esse lixo eletrônico.

Com tanto entulho circulando pela rede, algumas reflexões ficam na mente: o que faz uma pessoa gastar tempo e neurônios para criar uma avalanche de baboseiras como essas? Por que não usar essa inteligência para algo mais produtivo, menos fútil, mais enriquecedor (e não digo aqui da parte financeira)? Caramba, se não há o que fazer, vai ler um livro, fazer uma pesquisa, conversar com pessoas, partilhar um pouco do conhecimento, fazer um curso (sei lá do quê), mas faça alguma coisa que não atrapalhe a vida alheia ou iluda a quem está muito mais perdido.

A minha crítica aqui não é à funcionalidade das ferramentas tecnológicas. Claro que não. Quando usada de forma adequada, pode unir pessoas que há muito não se falam, pode servir como captação de informação e pode realmente ajudar em diversos casos. E é claro, otimizar processos e aumentar o faturamento. Esse fator agilizou muitas negociações e contatos, mas também criou um distanciamento nas relações humanas e parece ter gerado uma carência muito grande, onde qualquer e-mail musical, os “benditos” PPS da vida, e com frases nem sempre significativas tornam-se verdades incontestáveis. O que eu não consigo assimilar é a total falta de sociabilização de quem cria uma mensagem dessa e a ingenuidade de quem passa. Claro que a intenção pode ser a melhor, de ajudar a quem precisa ou prestar um serviço (sentimento peculiar do nosso povo), mas a desinformação ou devida averiguação dos fatos só distorce as coisas, desajusta o foco e cria esse engarrafamento virtual.

Então, faço um apelo: mensagens indicando para encaminhar a 50 amigos, listas e demais esquisitices do gênero, não passe. Apesar da amizade, tenham certeza, eu deleto e-mails assim. Ou então faça como comentou o jornalista, faça um filtro, confirme a veracidade dos dados e, se for o caso, responda a mensagem dizendo que aquilo é mentira (como o fato citado do fim do 13º) ou para não mandar mais nada desse tipo.

Abraços.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Olha o menino aí!

Sexta-feira, dia de expectativas para o fim semana, de alívio por um momento de descanso, momento de se preparar para repor as energias e começar outra semana. Mas sexta, aqui no blog, também será dia de contar as peripécias de um garoto. Nada especial, apenas alguns “causos” (como diz o matuto) sobre esse moleque arteiro e curioso. Mas, em primeiro lugar, deixem-me apresentá-lo.

Garoto comum, até meio franzino, pernas finas, porém velozes, cabelo espetado, rosto levemente sardento, sorridente e com um brilho no olhar. Como eu já disse, totalmente normal. Não é gênio nem tem superpoderes, a não ser, é claro, a sua imaginação.

Seu nome verdadeiro é Josué, mas poucos o chamam assim. Ele é mais conhecido como Peteleco. Por quê? Vou contar. Acontece que Peteleco sempre foi muito espontâneo e fazer amizades é com ele mesmo. Filho de pais que cultivam o bom humor em casa e partilham os momentos vividos (mesmo que seja só na hora do jantar), para ele, embora um pouco tímido com a situação, era natural o que estava fazendo. Mas não foi entendido dessa forma. Aliás, não era o local adequado.

Josué, quer dizer, Peteleco, estava em seus primeiros dias de aula do ano, primeira ou segunda série do Ensino Fundamental (hoje chamado 2º ou 3º ano pela nova nomenclatura). Tudo era novidade. Desde os professores à sala de aula.

A turma entrou e, enquanto o professor arrumava as coisas para dar início à aula, iniciou-se o “zum-zum-zum”. Jousé não fez diferente. Virou e começou a conversar com o amiguinho de trás. Porém, o professor se levantou e pacientemente esperou a sala fazer silêncio. Aos poucos o barulho foi cessando, mas Josué não percebeu a presença do sr. Alceu logo atrás dele e continuou o papo. O sr. Alceu, que era muito espirituoso, chegou bem perto e deu-lhe um suave toque na orelha com a ponta dos dedos. Josué foi pego tão de surpresa que tomou um susto. Sua primeira reação foi ficar vermelho de vergonha, e depois, de raiva, querendo chorar.

- O senhor me bateu! Vou falar para a minha mãe. – disse o pobre menino.

Sr. Alceu se defendeu e o acalmou:

- Não, Josué, eu apenas quis chamar sua atenção e dei-lhe um peteleco de leve na orelha.

A classe não agüentou e caiu na gargalhada, mais pelo nome esquisito que pela cena. Quando o professor explicou o que era isso, tudo se resolveu. Mas o apelido ficou. E Josué passou a ser Peteleco. Tanto que quando o chamam pelo nome, às vezes, ele demora a responder, até se tocar que é com ele.

Bom, todas as sextas – ou quase todas – ele estará por aqui com situações diversas. Espero que gostem.

Abraços.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Pai gestante

Hoje começo a formatar melhor o meu blog, seguindo o que me propus a fazer (veja post anterior).

Ontem, a pedido de uma amiga terapeuta, compareci ao curso de gestantes que ela organiza e ministra numa creche na Zona Norte. Eu fui na condição de palestrante convidado, não por ser especialista em algum assunto, mas por ser pai e. em conseqüência disso, ter algo a comentar a respeito da paternidade, maternidade, sentimentos e expectativas dessa fase.

O encontro foi muito bom, acima de qualquer coisa que eu poderia imaginar. Um bate-papo muito gostoso que durou cerca de duas horas, mas que nem pareceu tudo isso.

Um fato curioso é que não havia nenhum marido acompanhando as gestantes. Sei que não é tão fácil estar presente o tempo todo, mas acho primordial o acompanhamento dos pais em todas as fases da gestação. O sentimento da paternidade surge antes mesmo do nenê ser gerado. A partir do momento que se pensa em ter um filho, a postura deve ser outra. E durante a gravidez, tanto a mãe como a criança sentem necessidade da presença do pai. A mãe fica mais frágil, sensível a qualquer mudança. A criança, em contato com o pai, costuma ficar mais calma. Pelo menos foi assim que as minhas filhas reagiram. Elas ficavam agitadas, mas era colocar a mão na barriga da minha esposa e elas ficavam mais tranqüilas.

Outra coisa que acho que faz toda a diferença é conversar com o nenê (isso mesmo, antes dele nascer), cantar, colocar música para que ele ouça, contar história, fazer muito carinho. Mesmo que a mãe esteja dormindo. Quantas noites eu fazia isso: minha mulher cansava, ia dormir e eu ficava ao lado, batendo longos papos com as minhas filhas. No meu caso, aumentou o apego que tinha por elas e senti que elas reconheceram a minha presença quando pequeninas. Até hoje são o maior grude comigo.

Para finalizar, sugiro a todos os pais que quiserem e puderem (depende de autorização médica) que assistam ao parto. A sensação e a emoção que a gente sente são inenarráveis. Nada substitui ou chega perto do que se sente lá, principalmente quando o médico chama para ver puxar o bebê.

Abraços.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Estilos no Blog

Olá.
Aos que estão lendo, para uma atualização mais constante e para incrementar o conteúdo deste blog farei uma programação semanal, à qual não quero deixar como obrigatória para não me tirar o prazer que tenho em criar e escrever, mas farei o possível para seguir.
Segundas vou escrever um pouco sobre as coisas que estão por aí e o que dela posso tirar ou que me influenciam de alguma forma. Quartas falarei como pai, experiências e pensamentos sobre essa fascinante magia. Sextas serão para contar as peripécias de um garoto. E sempre que der, terças e quintas serão para colocar contos, poemas, poesias... Um pouco de cor nessa tela branca.

Abraços. Espero conseguir e espero que gostem.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Coisas boas também acontecem

Para provar a mim mesmo (e a quem tiver a paciência de ler o que escrevo) que as coisas boas existem, indico aqui três blogs e um site que achei interessante.
O blog do estreante (nossa, quem lê pensa que sou veterano nisso, rss) Walter Tierno, um cara muito inteligente, com sacadas instigantes e humoradas. O outro blog é da esposa de outro amigo. No blog da Daniela Toledo, você pode encontrar os artesanatos que ela faz com muito capricho. O outro blog tem um título muito legal Blablá Eletrônica - o blog do papai coruja, o qual descobri nas clicadas por aí, conhecendo blogueiros e suas indicações; um blog dedicado ao seu filho Gui.
O site que indico é em homenagem a todos os artistas "anônimos" que alimentam diariamente a arte e mantêm pulsante a energia e o olhar diferenciado pelas coisas comuns do dia-a-dia. Espero que gostem. Por falar nisso, dia 22-09 haverá uma vernissage no próprio estúdio, Ateliê Nobre Sucata, com exposição das obras dos artistas do Gapis (Grupo dos Artistas Plásticos Independentes), das 15 às 21h - Rua Dr. Freire, 269 - Mooca - SP. Um grupo de jovens artistas, do qual faz parte o meu amigo Márcio Caetano. Vale a pena conferir e prestigiar esses talentos.

Abraços.

Só pra gente não esquecer

Não acabaou não, gente! Ainda tem muita maracutaia por aí. O tapetão tá rolando para aprovar a prorrogação da CPMF. Ainda tem indiciamentos e mais e mais processos para julgar. E o povo só... Ouvindo algumas músicas pela internet, deparei-me com uma que pode representar um pouco da situação, ou melhor, é um pouco do que a população gostaria de dizer aos que sempre usurpam o tesouro nacional e se dão bem. Não me refiro exclusivamente ao governo atual, a um único partido, pois a bandalheira existe não é de hoje e a impunidade não é nenhum neologismo. A música é Vossa Excelência, do Titãs, do CD Titãs MTV ao Vivo. Fica aí a dica, só para desestressar.
Abraços.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O que resta ao povo?

Olá a quem me lê. Desculpem-me pela demora em postar aqui, mas anda meio corrido e o tempo um tanto escasso.

Esse blog tem a intenção de ser um espaço literário e também voltado à magia da paternidade e outras coisas que gosto. Mas, infelizmente, desde que eu o criei, só uma vez escrevi sem nada amargurante na cabeça.

Hoje não é diferente.

Ler a manchete de que o Renan foi absolvido e continua com o mandato foi um balde de gelo (com a brra inteira, sem derreter mesmo) na cabeça de quem acreditava na justiça.

Notem uma coisa: não sou eu quem diz que o que ele fez tinha irregularidades (então não digam que isso é perseguição política ou blá-blá-blá panfletário). A Polícia Federal, o Ministério Público, o Conselho de Ética do Senado, a cobertura jornalística que apura os fatos, todas as evidências apontavam para sua culpa e a atitude mais sensata, mais certa e mais moralizante era a sua renúncia ou a cassação.

Num ato digno de filme do Poderoso Chefão, onde a família protegia qualquer membro em perigo, o Senado saiu com uma votação "ultra secreta", totalmente na surdina. 40 a 35. 40 senadores que não escutaram aos anseios da população, 80 ouvidos que precisam urgentemente de uma manutenção (cotonete mesmo ou aquele jato de água morna para tirar o excesso de cera que obstrui a audição). Isso, sem falar nos outros 6 que ficaram vendo a banda passar, fingindo que não era com eles.

Bom, a nós, pobres votantes, eleitores que têm o livre arbítrio para escolher seus "representantes", órfãos de membros que sequer sabem que um dia fizeram parte da família do povo, que apenas se lembram da família corporativista e que encobrem as falhas dos amigos para que as suas não sejam apontadas; a nós, assalariados, pedrinhas saltitantes no chocalho da condução, amantes das filas e do descaso dos serviços públicos, pagadores compulsivos de impostos e brasileiros desatentos às mudanças na economia mundial; a nós, meus caros amigos, restam apenas uma lona, os pratos para equilibrar, a torta na cara e o grito do administrador do circo, pois o resto já temos.

Equilibramos nossos esqueletos na corda bamba da vida, no dia-a-dia em que temos de trabalhar, lutar pelo nome limpo e a comida na mesa, pela educação a pulso firme das crianças (porque não é fácil explicar essas coisas a elas quando somos questionados sobre a justiça), sambamos num picadeiro e temos a cara pintada, não a dos iludidos que acham que fizeram o impeachment do Collor, mas a do palhaço que faz os outros rir sem sequer notar sua cara engraçada e empastelada de tinta.

E olha que gente rindo da nossa cara tem aos montes.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Post da Blogagem Coletiva

(In)Dignidade

Não vivi na época da ditadura e repressão, onde não se tinha a liberdade para poder pensar e dizer certas coisas. E, apesar de tudo, passava-se a idéia do “milagre brasileiro”, que éramos um país promissor, emergente. Que temos potencial e as coisas podem melhorar, não há dúvida alguma. Mas fica cada vez mais difícil, principalmente se nos atentarmos para o noticiário. Só tem desgraça e violência, seja moral, física ou social. Faço esse post aderindo ao Blog Coletivo, iniciado pela Poliane, do Rumorejo.

“Brasil: o país do futuro”. Essa foi uma mentira tão bem contada que todo brasileiro passou a acreditar que era verdade. Como disse acima, não que seja impossível de sermos, pois o Brasil tem potencial para se destacar em inúmeras áreas e tem tantos talentos que merecíamos mais consideração realmente. Porém, se o quisermos ser de fato, temos de ser primeiro um País digno de se viver, e de representá-lo em qualquer canto do mundo, no presente. Assim como a estória do menino e o lobo, corremos o risco de os brasileiros não mais acreditarem que existe um futuro para o País. Não pelo desânimo, mas pelo ceticismo, pela falta de verdade e integridade de quem incutiu esse ideal em nossa mente (e das autoridades que detêm o poder para fazer algo de verdade). Não pelo ócio e falta de vontade da população, mas pelo oportunismo vigente em cada ambiente, pelo pensamento “farinha pouca, meu pirão primeiro”.

Uma criança tem em seus pais e outras pessoas mais próximas a fonte de inspiração e referência para aprender e se desenvolver. Não se pode lhe dizer o que ser e fazer sem que ela veja e vivencie os exemplos em casa. Ela simplesmente vai crescer duvidando da veracidade do que lhe estão apresentado e não aprenderá valor algum, tornando-se candidata a atitudes errôneas e impensadas.

Da mesma forma, seu futuro profissional depende de muito preparo, se quiser ter êxito. Não nascemos arquitetos, nutricionistas, jornalistas, publicitários, professores etc e outras tantas profissões igualmente dignas. Tudo depende dos passos que damos. Antes de correr, aprende-se a andar. Sem essa premissa o tombo e o machucado são inevitáveis. E a recuperação demorada.
Não se constrói um País do futuro sem estruturá-lo para tal. E não há como fazer isso sem que tenha seriedade nos projetos, leis e ações. É preciso respeito. Com a população, com o País, com o futuro da nação e com as riquezas (materiais e intelectuais).


Fazendo eco às vozes dos blogueiros e tantos outros movimentos existentes, exijo RESPEITO e que ele seja plenamente aplicado no dia-a-dia. Não só por quem movimenta os bilhões do orçamento e pode ajudar a alavancar ou afundar o Brasil, mas também em atitudes básicas, como no “bom dia” sincero, no sair de casa para trabalhar, na condução lotada, no trânsito caótico, nas repartições públicas, no trato entre patrões e empregados, nas instâncias governamentais dos municípios, estados e federação. Somente com a aplicação dessa regrinha básica, mais uma boa dose de simpatia e educação, teremos uma base sólida de valores e amor, e poderemos nos orgulhar não somente do País em que moramos, mas das pessoas que nos cercam, do que pensamos e fazemos para evoluir, aprendendo a viver na coletividade e não apenas olhar para o próprio umbigo.

Parodiando uma frase que ouvi em algum lugar, um graveto pode ser quebrado facilmente, mas um feixe deles não. Nós, que nos julgamos tão humanos e racionais, poderíamos aprender a viver em comunidade com os tantos exemplos presentes na natureza, com os animais que chamamos de irracionais ou com os índios, os quais são ditos não civilizados.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Ser

Andar por aí... sem pressa, sem destino, sem nada na cabeça, sem preocupação...
Sem pretensão alguma. Apenas pela vontade de estar em movimento. Mente vazia? Não! Mente em constante mutação. Crescimento, absorção, turbilhão de idéias, evolução. Somente a vontade de ser. Um ser pensante, um ser andante, um ser de sei-lá-o-quê, um ser reluzente. Ser a brisa que acaricia o rosto da mulher amada, ser o vento que mexe e tira das folhas da árvore o canto, ser rápido como o pensamento ou lento como a preguiça de levantar no dias frios. Ser tudo que envolve os amantes, ser a volúpia, o medo, o desejo, a luxúria, o prazer ininterrupto. Ser quase um nada, um grão de areia perdido no maremoto. Ser todos e tudo ao mesmo tempo. Mas, na verdade, apesar da miscelânia infindável das coisas que me rodeiam, ser apenas eu. Um ser incompleto e sedento por mais conhecimento, sobre mim e sobre os outros, um ser que não consegue viver sem estar em contato com outros seres, seja da mesma espécie, seja de outras raças, lugares, galáxias, reais ou imaginários. E, com cada um deles, aprender sempre mais do que sou e o que posso oferecer de bom aos outros.
Nada especial. Apenas pensamentos...

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Quantos mais?

Diga-me uma coisa: quando você vai à padaria e pede um pão com mateiga e um cafè, o que se espera? Ser bem atendido, não é mesmo? Quando tem algum problema de saúde e vai ao hospital? Que também seja bem atendido (embora nem sempre é o que acontece). Quando se é contratado por alguma empresa ou presta-se algum serviço? Claro que o que esperam de você é dedicação e... ser bem atendido, ou seja, desenvolver um bom serviço. Então por que isso não acontece quando contratamos (através do voto direto ou do ato de delegar poder a outro para que se escolha a mão-de-obra) alguma autoridade ou órgão do governo? Será que é difícil perceber que somos seus clientes e os mais interessados em que tudo seja feito da melhor forma possível e que sejamos também bem atendidos?

Impossível não opinar sobre a tragédia que, mais uma vez, chocou o país. A comoção generalizada, e que me emocionou também, é tanta que, mesmo que eu escrevesse um carta extensa aqui, não representaria nenhum um milésimo da dor que os familiares e amigos estão sentindo. Mas é triste ver que, com ou sem crise ou apagão aéreo, a dúvida sobre os fatos e a segurança dos vôos e aeroportos do país deixa um rastro de indignação, revolta, impotência, angústia e medo.

O pior é saber que as possíveis condições causadoras desse acidente, especificamente, poderiam fazer parte de um plano de contingência, de gerenciamento de crise, de prevenção e manutenção das pistas, e não foi feito o suficiente. Essa é minha opinião, baseada em reportagens e entrevistas que vi e ouvi sobre as eventuais causas. Os indícios podem ser comprovados ou contestados. É evidente que tudo deve ser apurado, levantadas as causas e possíveis culpados, para as devidas punições e indenizações cabíveis. Mas, sinceramente, isso só conforta o sentimento de justiça pulsante em cada um de nós. Isso não traz o ente querido que disse até logo e não voltou mais. Não faz emudecer o grito histérico da mãe que se despediu dos dois filhos e agora, o chão faltou e o mundo lhe caiu na cabeça.

Um assunto como esse deve ser tratado com sutileza e cautela. O que não pode e não deve acontecer é o que sempre se vê: polêmica, numerosas entrevistas, choque geral em todas as classes, momentânea mobilização nas instituições governamentais (independente do partido), oportunismo favorecendo governo ou oposição, gente querendo aparecer ou ganhar mais poder. É imprescindível que se faça de tudo para prevenir (desde uma manutenção até o desvio de vôos, ou quem sabe a possibilidade de construção de um novo aeroporto, em outra região. Isso só as pessoas "competentes" podem dizer) e evitar novas tragédias. Escuta-se falar em cifras para todo canto, até mesmo nos escândalos de corrupção. Se usassem o mesmo esforço mental e organizacional para a prática do bem, esses milhares, milhões, bilhões trariam muitos benefícios para a nação.

Assim como é óbvio ser bem atendido na padaria, hospital e empresa, também devem ser bem resolvidos os anseios da população e suas carências, bem como os serviços a ela prestados. De fato, pouco importa se foi o partido A ou B que fez ou desfez. O importante é que nem um nem outro atrapalhe (interrompa ou mude ações que ajudem ao povo) e que sejam cumpridas as tão faladas promessas de campanha ou as falas de "povo querido". O mesmo se aplica às empresas que lucram com a aquisição dos serviços pelo cliente amigo, fiel e amado.


Afinal, quem ama protege, educa e dá condições de crescimento. Quem ama, não coloca a vida dos amados em risco.

sábado, 14 de julho de 2007

Heróico Brado

Do que é feito o herói? Como é que ele surge? Não, espere aí, não é brincadeira não! Todos já se imaginaram com super-poderes, voando por aí ou sumindo em um lugar e aparecendo em outro, com aquelas roupas esquisitas (cueca sobre a calça! Vê se pode! hehehe). Quem nunca ficou viajando em seus pensamentos, pensando ser o capitão alguma coisa ou o super sei lá o quê? O homem mais forte do mundo ou a mulher que pode tudo? Ah, bons tempos em que a ilusão povoava boa parte dos pensamentos! Pureza e ingenuidade aflorando, sem que ninguém o achasse um tolo, compromisso apenas com a diversão. Éramos todos heróis, sem maldades na cabeça, e protetores dos oprimidos, da honra e dignidade, e do planeta.

O meu saudosismo não é vontade de voltar ao passado e esquecer todas as coisas boas que aconteceram. E os aprendizados adquiridos com os erros e acertos. Todas as coisas valeram e valem a pena. A saudade é do sentimento bom que pairava no ar, de poder sair às ruas e brincar à vontade, sem se preocupar com a hora e os vícios da "modernidade". Altas horas da noite, madrugada adentro, e o que se via era um grupo de amigos conversando e exercitando a criatividade com brincadeiras e estórias.

Cresceu o menino, as pessoas mudaram (de casa e de estado de espírito), as ruas ficaram sombrias, o ingênuo foi jogado pro canto da sala e é vítima de chacota. As rodas que se vêem nas ruas nem sempre são para coisas boas. E as brincadeiras, vez em quando, são de extremo mau-gosto. Claro que o mundo não ficou totalmente cinza. Felizmente, o arco-íris sempre surge em meio às tempestades e reluz suas belas cores, enfeitando o que se esconde na penumbra.

Hoje, até os heróis mudaram. Ninguém ostenta mais sua capa feita de toalha de banho ou lençol. Ninguém solta seus raios imaginários ou seus golpes fatais que dizimavam o mal. E, para o bem geral da nação, não se pensa em roupa de cuecão (quer dizer, só o cara que criou o esquisito do comercial, hehehehe). O heróis dos tempos atuais colocam outros tipos de fantasia, outras roupas especiais (sociais com gravatas, esportivas, uniformes, salvadores de vidas etc). Frágeis ou resistentes, famintos ou não, com olhos irritados de sono, apertado na condução ou preso no trânsito, eles (herói ou heroína), lutam contra os monstros internos e externos e combatem o mau-humor, as contas no final do mês, o trabalho empilhado na mesa, a responsabilidade de ter uma família e criar filhos, a missão de ensinar coisas boas e dar bons exemplos. E, principalmente, apesar de tudo, os novos combatentes continuam a ser imbatíveis, pois a jornada vai até tarde e no dia seguinte eles estão prontos, dispostos a começar tudo de novo.

Do passado, ficaram as boas lembranças, os valores assimilados e o brilho nos olhos, que ainda reluzem quando encontram outros olhos amigos ou quando a mente lembra que a criança de outrora sempre estará de prontidão, dando forças e revitalizando a alma do incansável herói.
Abraços.


Obs.: Não sei se todo dia, mas vez ou outra, você poderá encontrar aqui algum texto sobre as boas coisas da vida, cultura, poesia, indicações ou algum protesto que reflita minha indignação com as mazelas da sociedade.