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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Amigos presentes

Há pessoas que, mesmo que se passe um tempão ou que elas fiquem muito longe, são inesquecíveis e quando a reencontramos parece que as vimos poucos minutos atrás. Não interessa há quanto a conhecemos. São pessoas que deixam suas marcas em nossas vidas, pelo que fazem, pelo que pensam, pelo que representam ou simplesmente pela agradável presença. Sou um homem abençoado por ter muitas pessoas assim em minha vida, as quais não medem o que sinto por elas pelo tanto de vezes em que vou em suas casas ou pelas cartas ou telefonemas que faço (assim como eu também não as julgo por isso). São elas conhecidas de muitos anos, recentes, de trabalho, de escola, do bairro onde cresci, das andanças por aí, das navegações pela internet, dos contatos pelo MSN, enfim, não importa de onde, o que importa é o que sinto por elas e o que delas recebo em troca. Para essa ilustres figuras fiz o verso abaixo. Sintam-se homenageados com esse gesto simples. Abraços.


Amigos presentes

É engraçado como o tempo
Tão senhor do nosso destino
Pode se tornar tímido
Tão pequeno como um menino

Quando a gente pensa
Nas pessoas que gostamos
Podem passar as horas
Podem voar os anos

Ele parece não passar
Encontramos as pessoas
Falamos ao telefone
E surgem as lembranças boas

Sentimos como se nada
Tivesse passado ou acontecido
Como fossem segundos
O tempo de fato vivido

E assim é que é bom
Mesmo que distantes
Amigos a gente não esquece
Mesmo sem vê-los
Ou mesmo por perto tê-los
Sua presença é pressentida
E deles na vida nos servimos
São gelo no calor escaldante
E a lareira que nos aquece
A mão que nos procura
E o ombro quando pedimos

Manoel Gonçalves

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Noite longa

A noite se arrasta
Madrugada adentro
O tique-taque não basta
Ela ignora o tempo

Eu parado aqui
Largado no sofá
Sem vontade de dormir
Pensando o que rabiscar

Essa folha branca na mesa
Parece ficar gigante
A mão não acha a leveza
E a inspiração está distante

O jeito é deixar pra lá
Ver um filme ou ligar o som
Sair por aí para caminhar
Cair na noite, aproveitar o que é bom

Talvez quando eu voltar
Quem sabe seja diferente
Talvez quando eu acordar
Quem sabe num banho quente

Manoel Gonçalves

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Despedida de um suposto inocente

Este é um conto que foi publicado dia 9-02 no blog Livro Aberto, editado pela Lunna Guedes, do qual participo todos os sábados. Por falar nisso, amanhã (23-02) tem mais um. Confira!



Abraços.





Despedida de um suposto inocente


Pela janela vejo a noite escura e sombria. Não há lua no céu, o que torna a noite mais enigmática. Uma sensação estranha permeia os meus sentimentos. Não sei exatamente o que me deixa assim, mas faço uma idéia. A noite silenciosa me convida às reflexões, às vezes banais, às vezes existenciais. Nessas últimas é onde me perco. Mas também é onde tenho a oportunidade de sair desse marasmo.


Não sei como vim parar aqui. Essa cela abarrotada de gente, fria e fedida. Um lugar onde a gente se esquece quem é e das coisas que mais gosta de fazer. Ontem, ao menos, foi diferente. Sai. Não fisicamente, é claro. Viajei por mundos distantes. Consegui vislumbrar além desse quadro de alvenaria. Voei acima das nuvens. Explorei os mares e seus segredos. Conquistei riquezas que jamais sonhava em possuir. Enfim, consegui sonhar. Era um paraíso. Mas a realidade crua me puxou de volta e cá estou, acuado, fragilizado e sem esperança.


Não lembro o que houve. Só sei que entrei num bar para espairecer. Andava meio desconfiado. Já havia algum tempo parecia não ser eu mesmo. Algo diabólico me rondava. Mas naquela noite o meu destino estava selado. Só me vem à memória que vi uma amiga, a qual platonicamente eu namorava, acompanhada por um cara. Meu mundo caiu. Tomei umas seis doses e tudo de apagou. Dizem que foi medonho, bárbaro. Mas eu não fiz nada. Só lembro-me de ter acordado na delegacia. E depois, aqui. Jurei inocência, mas ninguém acredita e riem da minha cara dizendo que aqui todos assim se definem.


Depois de tantas investigações, enfim, descobriram o verdadeiro assassino. E selaram sua condenação. Mas o pior foi saber que ele veio para o mesmo lugar que eu. Fiquei ao mesmo tempo furioso, por saber que ele é o culpado de eu estar aqui, e temeroso, pois sei que ele é cruel demais. Ele já soube que estou aqui e como não tem muito espaço nessa prisão, sei que em breve ele virá. Está furioso e disse que eu fui culpado por pegarem-no. E não gostou. Sua fúria está incontrolável. Jurou vingança. Disse que acabará comigo e que de hoje não passo. Tento lutar para me manter aqui, mas já não tenho mais forças. Acho que será essa noite. Ouço seus gritos aterradores. Não poderei enfrentá-lo. Sou fraco demais e não há espaço nesse corpo para nós dois. Então, só me resta contemplar a noite escura e me conformar. Sei que não vou sair daqui mesmo. Aqui não é lugar mesmo para pobres sonhadores. Eu seria devorado se permanecesse aqui. É melhor abrir espaço para a sua raiva e aceitar que ele suma com o que resta de mim. Sem esperança, é melhor deixar que tome o controle. Ele já é maior que eu mesmo e me engole aos poucos. Depois de ter “experimentado” o gosto do sangue, em vez de se arrepender, gostou. Serei a próxima vítima de sua falta de escrúpulos. Somente mais uma dentre as inúmeras que acho que fará. Pobres idiotas que aqui estão. Serão meros corpos com o passar dos dias. Ele os devorará. Minhas forças somem e as dele, criatura maligna, crescem. Só queria ter tido mais tempo e mais coragem para lutar. Faltam poucos momentos de lucidez. Os últimos. Depois, sei lá onde estarei. Serei apenas o reverso do espelho da outra face, a do mal. A que se mostrou mais forte e que está prestes a cometer mais um homicídio, o meu. Já não há mais tempo. Já não há mais nada.


Fujam pobres presas, pois ninguém ficará vivo ao meu lado... isso me fascina... sangue, ossos quebrados, olhos de súplica, gritos e... mais SANGUEEEEE!


Manoel Gonçalves

Manogon no Coletânea Artesanal

Está no ar mais uma edição do Coletânea Artesanal, com o tema Cenas Urbanas. Há dois textos meus nessa edição: Mutações (poema) e Quebra-queixo (conto).

Visite, leia e comente. Ficarei honrado com a sua leitura.

Abraços.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Cartão corporativo: cheque em branco

Sei que o assunto não é novo, mas tenho ouvido tanta coisa a respeito que é impossível não comentar. A Samantha fez um post (Cartão Corporativo) sobre o tema em seu blog e também publicou no Nossa Via, O bem amado cartão corporativo. Assim como a Sueli também postou no blog do Desabafo de Mãe em Deixa que eu pago.
Então, não vou estender muito o papo. Eu vejo nisso uma questão muito simples. Por que políticos e funcionários públicos de alto escalão têm o direito ao cartão? Não que eu seja radical, mas sinceramente, há necessidade disso? A maioria tem passagem de graça, bônus para um monte de coisas (auxílio moradia, combustível etc, etc, etc que todos já estão exaustos de saber) e ganham muito bem para suprir as despesas. Mas vá lá, nem em sonho ou a pauladas eles vão extingüir os cartões e acabar com as mordomias. Mas então por que não colocar limites de gastos? Se é só para eventuais emergências, como estão dizendo por aí, estipula-se um teto (baixo) para as despesas. Outro detalhe é o saque permitido. Caramba! Onde já se viu ter saque liberado (ainda mais de dinheiro público) e sem necessidade de prestação de contas. Aí, até o mais bobinho, de tanto ver os outros levando vantagens, vai querer um pedacinho do filé. Eles já não ganham muito bem, então que paguem as contas, não há necessidade de saques. Mas se quiserem, por motivos de que em alguns lugares não se aceita cartão (só se for em vilarejos ou barraquinhas e, mesmo assim, é possível achar), que seja ficado um teto para saque e qualquer valor acima disso seja devolvido aos cofres públicos. Não sei exatamente como funciona nas empresas, mas acho que os funcionários, mesmo da cúpula, não devem ter um cheque em branco nas mãos, acredito que prestam contas e vez ou outra a empresa passa por auditoria.
Até para não ficarmos com cara de idiotas e o Brasil com jeito de "samba do crioulo doido" ou "aguá benta" (onde todo mundo mete a mão) é preciso que os culpados sejam punidos, seja de qual partido for, e devolvida pelo menos uma parte dos gastos descabidos. Tá legal, já passou a época do Natal e já estou grande para acreditar que ele existe. E que a corja está preocupada no bem-estar da Nação ou no crescimento da economia brasileira. Só há olhos para os possíveis ganhos. Infelizmente. Será que algum dia vão parar para pensar nisso? Entrando os filhos nos lugares dos pais (política e nepotismo ou cabide empregos parecem ser sinônimos) e com as mesmas práticas de "farinha pouca meu pirão primeiro", acho muito difícil.
Abraços.

Manogon no blog Livro Aberto

Tem texto meu no Blog Livro Aberto, editado pela Lunna Guedes. Quem quiser, acesse, leia e comente. Ficarei honrado com a visita.

Conto: Despedida de um suposto inocente

Abraços.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A mulher e a rosa

E esta aqui foi para a minha outra preciosidade, Bianca, que está crescendo depressa demais para a minha corujisse e devagar demais para a sua curiosidade e ansiedade e, com o avançar dos anos, deixará de ser minha criança para ser uma mulher maravilhosa, em todos os entidos, mas ainda "minha pequena". Assim é a vida, mutante, e tudo passa muito rápido.

A mulher e a rosa

A mulher como a rosa é
Macia
Cheirosa
Linda
Mas também tem seus espinhos
Porém, é sempre sua beleza
Que fica, que predomina
E que a faz uma beldade
Admirável

A rosa surge aos poucos
Em meio a galhos espinhentos
Ali, tímida, sem graça
Cresce, se desenvolve
Mas ainda sem muita graça
Surge em botão
Uma coisinha de nada
Quando as pétalas aparecem
Fica diferente
Interessante
Mas é quando desabrocha
Que a todos encanta
Quando solta seu aroma
É que enfeitiça aos amantes
Passivos observadores
Sua beleza irradia
E mesmo quando murcha
As pessoas ainda lembram de sua formosura
E até guardam suas pétalas
Para que ela continue existindo
Mesmo que nunca tenha de fato sumido
Desaparecido das mentes

Assim é a mulher
Surge do amor
Fica uma coisinha de nada
Cresce na barriga, nasce
Enche os olhos de alegria
Todos se encantam
E a todos conquista
Nas diversas fases vividas
Mas só quando desabrocha
Deixa sua peraltice de menina
E assume os mistérios da mulher
Muda por fora e por dentro
Desenvolve as inteligências
Reforça todos os sentidos
E se forma de uma vez
É que hipnotiza quem a vê
E, mesmo quando passa e se vai,
Deixa seu rastro
Imprime sua marca
Semeia sua fortaleza
Erroneamente chamada de frágil
Só porque tem um lado simples
Encantador como a criança
E assim, como que esperando sua volta
Todos cultivam sua lembrança


Manoel Gonçalves

Piquininha

Esta aqui é muito meiguinha. Foi feita pra minha menininha, a mais nova.

Piquininha

Nariz de batatinha
Olhos de jabuticaba
Rostinho arredondado
E cabelo bagunçado

Chupa o dedo
Pega a fronha
Encosta em alguém
Fazendo manha
Seu travesseiro é o “nenê”

Fala muito e é esperta
Não dorme muito cedo
Pula, brinca, faz a festa
Só ao papai chama
Quando está doente
Mas se está sadia
Fica elétrica, com muita alegria
E aí, não há quem agüente
Quem pede ajuda é a gente

Essa sapeca menina
Pra mim será sempre Piquininha
Caçula e miudinha
Só podia ser nossa filha
A quem chamamos Sofia


Manoel Gonçalves