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segunda-feira, 31 de março de 2008

Inércia


O silêncio da espera
Vagar dos movimentos
Ignora minha mente
Deixa-me torpe, inconsciente
Mas apesar do som ausente
Há um zunido interminável
Por mais ninguém escutado
Ínfimo, imperceptível
Somente por mim audível
O ritmo inesperado
Do coração acelerado
Enquanto espero
Pacientemente
Parece parar tudo
Pára o vento
Cessa o relento
A pipa não voa no ares
O barco não flutua nos mares
Imóvel fica a folhagem
A rua fica deserta
Ninguém a caminhar
Nem pedestre pedindo passagem
Nem carro, nem moto
Nem guarda para multar
Pára o barulho da cidade
Somem as dificuldades
Não se conta o peso da idade
Nem há rugas de preocupação
Nenhuma nuvem, nem tempestade
Nem sol quente de verão
Só há o relógio
E os seus ponteiros armados
Que mesmo vagarosamente
Avançam sempre pra frente
Incansáveis, determinados
A minha espera pára tudo
Interrompe qualquer movimento
Só não consegue paralisar
As engrenagens do tempo

Manoel Gonçalves

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