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terça-feira, 24 de abril de 2012

Jeito Simples




Jeito simples

Sentado à beira da porta
Escorado no batente
Olhando pro nada
Vendo as galinhas correr
Sentindo a brisa da tarde
Descansando o esqueleto
Moído da lida diária

Espreitando o laranja do céu
Se perdendo em meio à fumaça
Do cigarro de palha
Do fogão à lenha
Do café fresquinho
Na caneca de estanho

A “nega” se balança na rede
Os filhos estão por aí
O sorriso estampa alguns dentes
O rosto é marcado por rugas
Do sol, da idade, da vida

Assim, a noitinha chega
E só resta ir pra rede
Que o dia se aproxima
A madrugada fria o espera
Num convite rotineiro e solitário

Antes que o dia clareie
Antes mesmo que ele esquente
Seu suor já terá molhado a roupa
Sua fome se fará quase danada
E suas mãos não sentirão nada
De tão acostumadas e calejadas

Assim ele contempla sua terra
Sua vidinha simples no sertão
Apanha seu facão e o enxadão
E se embrenha na roça
Pra garantir da família o pão

Nessa paz, nesse silêncio
Que as cidades desconhecem
Nesse som desbravador
Que o cimento não ecoa
Tudo seguirá seu ritmo
Suado, mirrado e árduo
Mas feliz
Feliz por ser tão seu

Tão seu como o fim de tarde
A fumaça...
O café...
E a rede...

Manoel Gonçalves

2 comentários:

Ana Silva disse...

Como faço pra seguir seu blog??? Adorei. Visite-me tb:www.considerasobreducacao.blogspot.com

Manoel Gonçalves (Manogon) disse...

Obrigado, Anna Silva, vou retribuir a visita. Adorei nossa reunião. Abraço.