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quinta-feira, 5 de junho de 2008

Comandante Mig

Mig saiu correndo para se esconder. Não poderia ser visto. Ainda estava sem o seu traje e seria facilmente identificado. Aproveitou uma distração daquela que parecia ser uma intrusa em seu espaço e passou rapidamente pelo corredor. Com receio que ela se virasse de repente, saiu em direção à escada e a subiu com se estivesse fugindo do perigoso Rork, o monstro aterrorizante de três cabeças, capaz de desferir golpes mortais e enxergar em toda parte, tornando quase impossível o oponente escapar de sua fúria. Ainda bem que não era ele, senão Mig não teria a mínima chance. Pequeno e magrelo, mas com uma sutil deficiência em seu organismo, que apesar da sutileza, o impedia de ser tão ágil. Seria a presa fácil. Somente seu traje o colocaria em vantagem e o tornaria tão habilidoso quanto seu pensamento pudesse sugerir. Para sua sorte, Kork estava no extremo norte do planeta. Aquela “intrusa” era alguém que ele não conhecia, e por isso mesmo podia perceber sua presença.


Chegou ao topo da escada quase sem fôlego, olhou pelo corredor obscuro e localizou a porta que queria. Entrou e demorou alguns nano-luz de tempo lá dentro. Quando a porta abriu, Mig saiu imponente em seu traje negro e cinza. Agora sim ele estava preparado para enfrentar os perigos do caminho até sua nave, onde estaria a salvo de qualquer inimigo, ativando o escudo de camuflagem. E o obstáculo estava ali mesmo, muito perto de impedir a concretização de sua missão. Mig ativou um botão em seu traje e desceu a escada sem pisar na escada, flutuando a 5 microfeet do chão. Deslizou pelo corredor até o salão central. Já podia ver seu transporte mais a leste. Mas o curioso é que ela não estava no salão. Estava fácil demais. Olhou para um lado, olhou para o outro. Nada, absolutamente nada! Onde ela teria ido? Será que o havia seguido? Não, seu treinamento com os dark angels o havia munido de instintos que detectariam a presença dela. Como não tinha tempo para esperar, começou a se encaminhar para sua nave. Mas a pressa não o deixou perceber um vulto escondido em uma entrada no final do corredor. Quando Mig passou, ela veio por trás dele. Seus instintos o fizeram pular e ele gelou. Não era possível, como tinha sido tão descuidado. Olhou de canto de olho para aquela criatura e saiu correndo. Ela tentava se comunicar, mas o dialeto era ininteligível. Ele tinha que conseguir, faltava pouco para chegar à sua nave e ficar seguro. Jogou-se no chão, saiu rolando e estava quase, quando ouviu um grito, algo quase assombroso que quase o paralisou, mas agora sabia que conseguiria, sua missão estava salva.


- Migueeeeelll, cuidado menino, vai se machucar!


Mas Carlota sabia que seu filho não a escutaria. Não naquela hora em que ele era o comandante Mig, pilotando sua nave, digo caixa de papelão, e explorando os locais mais longínquos das galáxias. Quando Carlota chegou com a TV 29”, Miguel ficou entusiasmado, não só pela TV novinha, mas principalmente pela caixa, pois foi só o seu pai tirar a TV que ele se jogou dentro da embalagem, vestiu-se com algumas coisas, improvisou um chapéu e começou sua viagem.

Manoel Gonçalves


* Esse miniconto foi feito inspirado no rosto traquina do Gábi, filho de nossa amiga Simone, a qual tem em seu MSN uma foto dele dentro de uma caixa de papelão. Miniconto que fiz e publiquei no blog do Desabafo de Mãe.

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