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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Um elogio ao silêncio... e à solidão

"...Viver é afinar o instrumento (de dentro)
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

...

Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo..."
(Serra do Luar - Walter Franco)



Cara L.,




Como talvez tenha percebido, nessas cartas enviadas, não escolhi apenas um destinatário. Senti-me à vontade para espalhar as missivas por aí, ao entortar da fumaça do café, ao intangível aroma, seja dessa inebriante bebida, seja dos salgados que ora a acompanham. Eles se espalham, misturam-se à multidão, ao já repleto cenário de cheiros, sabores e cores. Assim como as cartas, que se misturam a tantas outras enviadas e recebidas, e que ajudam a incrementar o seu vasto espectro de leitura.


Tive de dar um tempo à sequência por nós abraçada e desenvolvida com dedicação e variedade dos mestres confeiteiros, que se debruçam sobre suas obras para o deleite dos degustadores, amantes da arte e devoradores vorazes. Outubro deslizou majestoso, mas tão intenso quanto rápido. O silêncio se fez presente e necessário.

Silenciar, não por se esgotarem as palavras ou assuntos, mas porque a circunstância solicita, de forma tão gentil quanto um paquiderme passeia sem alarde. Entrar em estado de "stand by", no qual você está ligado, quase acompanhando o movimento em câmera lenta, mas ao mesmo tempo, não está apto a exibir nada qualitativamente aceitável.

Mas a criação também se faz e refaz do caos, entre pausas, silêncios e intermitências de respiro. O ator continua repleto de sentimentos, intenções e ações internas mesmo quando está imóvel, sentado em uma palco vazio, ante à plateia curiosa. É nesse momento que o mínimo se torna essencial, que um gesto, um olhar, uma respiração ou apenas uma palavra solta com propósito pode preencher o espaço como um todo.

A pausa fez-me focar no que era imprescindível e, ao mesmo tempo, apreciar a beleza das belas linhas que estão passeando por aqui, nas quais recaí sobre seus escritos. Não é de hoje que aprecio suas paisagens e pinturas literárias. Entre cafés, chás, linhas e letras, há sempre uma vida costurada, o pulsar tangível, mesmo quando retrata o que não se pode ver ou pegar. Se a escrita, como se diz, é solitária, está sempre carregada de tipos e pulsações, de seres e criações coletivas, que se entrelaçam, moldam-se e se recriam tantas vezes quanto se fizer necessário e admirável.

Abraço, caríssima.

MG


Terceiro tema do Projeto Missivas de Primavera, da Scenarium Plural. Participam os autores:

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