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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Navega-se sem mar, sem vela ou navio

Imagem: shutterstock

"... Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar..."

(Preciso me Encontrar - Cartola)


Caro amigo BK,

Escrevo essa missiva como se conversasse apenas comigo, na tentativa de achar uma resposta ao menos animadora e satisfatória, sobre coisas boas a seu respeito. Embora também precisasse que elas fizessem parte do meu dia a dia, é bem verdade.

Há tempos não o vejo nem nos encontramos para dar boas risadas ou tomar alguns belos goles de vodka, falar besteiras de velhos amigos e calejados trabalhadores. A "firma" como chamávamos já não existe mais e deixou de ser nosso ponto de encontro diário há bons longos e saudosos anos. Éramos uma turma feliz. Não só como colegas de trabalho, mas como amigos que partilhávamos detalhes, até mesmo familiares.

Quantas alegrias e conquistas dividíamos, não é mesmo? O nascimento da minha primeira filha, a formatura do seu filho no chamado "ginásio". Tantas mudanças que já nem sei qual o nome que dão para isso! O primeiro dente caído da minha pequena, a primeira namorada do seu... quanta coisa!

É verdade que também houve tristeza... a morte da cachorra da família, cirurgias e machucados, algumas brigas e ossos quebrados... Enfim, vida. Como uma viagem de navio em dia tempestuoso, não é verdade?

Mas, acima de tudo, tenho orgulho de dizer de nossa amizade. Os cabelos branquearam, a coluna insiste em me lembrar que os anos passaram, o neto já corre mais que eu. A família aumentou. A minha "nega" também soube envelhecer comigo. Tem sido minha rocha sólida esses anos todos, na qual se ergue e se mantém minha estrutura toda.

De tudo isso, meu amigo, só lamento não ter a sua companhia por perto para poder partilhar. Sequer sei se ainda continua com essa gargalhada característica.

Pois é, escrevo imaginando suas respostas e rindo de todas elas. Escrevo, não querendo voltar ao passado, mas grato por ter vivido tudo isso. E escrevo para perpetuar tudo isso, não como um final de história, um ponto final.

Onde quer que esteja, meu amigo, um gole à nossa amizade.


Franz


Sexto tema da blogagem coletiva Missivas de Primavera, com os autores da Scenarium Plural. Participam do projeto os autores:

Adriana Aneli | Lunna Guedes | Tatiana Kielberman | Chris Herrmann | Mariana Gouveia | Manogon | Emerson Braga | Ingrid Morandian

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