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sábado, 24 de novembro de 2007

Fatos, atos e ratos

Fatos, segundo Houaiss, "aquilo que acontece por causas naturais ou não, dependentes ou independentes da vontade humana; ocorrência."

Atos: "exercício da faculdade de agir ou o seu resultado; aquilo que se faz ou se pode fazer; ocasião em que é feita alguma coisa; procedimento, conduta; exercício de um direito ou dever."

Ratos: "designação comum dos roedores da família dos murídeos, como o rato-preto e a ratazana, atualmente disseminados por todo o mundo, responsáveis pela destruição de grandes quantidades de alimento e pela transmissão de diversas doenças, como a peste bubônica; pessoa que pratica furtos em locais públicos, tais como igrejas, feiras etc.; ladrão, ratazana; Regionalismo: Brasil - pessoa trapaceira, tratante; Regionalismo: Brasil. Uso: informal - agente de polícia; rato-branco."

Os fatos que acontecem diariamente e que nos deixam como lobos, uivando solitariamente para a enigmática noite sombria, sem compreender os seus abismos, seu canto fúnebre, seu visual lúgubre. Fatos cinzentos, nebulosos, densos, que impedem de enxergar a beleza das estrelas que brilham nas pessoas, o encanto de um sorriso sincero e de uma noite enluarada. Fatos bárbaros, como a presa ensangüentada e agonizante, que choca pela imagem grotesca, expondo ali, banhadas em próprio líquido da vida, misturadas à terra umedecida, as vísceras do que um dia foi um animal viril.

Atos irracionais, ações desmedidas do homem-besta-fera, que impõe ao outro sua condição de supremo juiz, inquisidor da moral não vivida e do exemplo não dado. Ser pensante, mas que pensa única e exclusivamente na obtenção de seu próprio glamour, do reconhecimento de sua própria força ante os fraquejantes opositores. Quem é você, estranho ser? O que faz que o coloca acima das coisas da vida? Por que se acha no direito de pensar que só você tem direitos? E os seus deveres? E as suas obrigações? De ser o ser realmente pensante, pertencente ao grupo, membro influenciador e influenciado por tudo que acontece a ele. Por que pensa que pode brincar com a vida alheia? Por que dizer aos outros o que ser e o que fazer, se não sabe sequer quem é e o que quer de sua vida? Atos bobos, hipócritas, medíocres. Atos por atos. Sem noção, conexão, razão ou perdão.

Ratos são seres desprezíveis, que em sua existência acham sentido a tudo que fazem, justificam suas ações e os fatos decorrentes delas, mas que, para o restante dos seres, devido aos malefícios causados por suas doenças e podridão, não passam de criaturas aniquiláveis. Claro que a natureza não funciona assim. Claro que não se jsutifica um ato errado, um fato medonho, com outros de igual desprezo das condições igualitárias, do bem da vida. Mas que os ratos são perseguidos e merecem o justo castigo por suas ações bestiais, ah, isso sem dúvida que sim.

Essa forma de escrever velada é uma tentativa de não deixar estourar as minhas veias e impedir que saia a última gota do líquido que me mantém quente, ser que busca o calor e que aquece as pessoas com quem convive, que se alimenta do puro néctar da flor da bondade, mas igualmente não consegue respirar com a fétida e irrespirável fumaça negra dos corações mórbidos. Por vezes, sinto cansar os batimentos cardíacos com tanta falta de amor ao próximo latente em nossa sociedade. Aí preciso pisar no freio, sair um pouco dessa penumbra, correr pelas savanas e adentrar a mata, sentir o sol, o barulho das árvores, o frescor das águas, a maciez da terra molhada, a vida na natureza. E assim, voltar renovado, renascido, pronto para as intempéries do cotidiano.

Essa é a minha forma de protestar por tanta falta de respeito à vida, por tanta violência, pelas meninas-mulheres que foram e são lançadas nos cárceres, forçadas a se prostituir e se despir de sua condição de ser humano, só para satisfazer um prazer macábro daqueles que deveriam ser seus pares, parceiros em trocas de experiências da arte de viver.

Abraços.

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