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quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O vampiro atacou a vaca

Hoje, replico aqui o post que fiz no Blog do Desabafo de Mãe sobre o leite adulterado. Mais do que desrespeitado como consumidor, estou revoltado como pai. Segue o texto:


O Vampiro atacou a vaca

- Hein! Como assim? Mais um caso como aquele do “chupa-cabra”? É piada, né?
- Não, infelizmente não.
- Mas como foi isso?
- Bom, na verdade, não é nenhum caso de documentário do Discovery Channel. E o vampiro aqui não é aquele ser mitológico (imortalizado na obra de Bram Stoker, Drácula). É o vampiro do mais vil capitalismo, da ganância do ser humano. E ele não atacou propriamente a vaca, mas o que ela produz, o leite.
- Mas o vampiro não gosta de sangue?
- Sim, mas esse gosta de grana. E, para obtê-la, não mede esforços nem se importa com ética ou saúde das pessoas.

Triste. Simplesmente revoltante e lamentável ver notícias como as que eu coloquei os links abaixo. Fatos assim fazem com que eu duvide da bondade e capacidade de viver em grupo (e se importar com o bem-estar desse mesmo grupo) do ser humano.

Não sou tão adepto às comemorações do Halloween, pois gosto de cultivar coisas da nossa cultura, assim como apreciar suas histórias sempre pitorescas, mas também não ignoro sua influência em nosso dia-a-dia (como bem disse a Simone em seu texto Travessuras ou Gostosuras?). Resolvi aceitar a sugestão da Simone e fazer um paralelo do Dia das Bruxas com as histórias horripilantes do leite.

Escrevo como representante dos pais e mães que se preocupam com a saúde de seus filhos e com os alimentos ingeridos, e também como um pai revoltado, indignado com tanta falta de decência, com a infestação de pessoas inescrupulosas.

Minha filha mais nova, Sofia, tinha intolerância à proteína do leite. Desde que parou de mamar que a briga para adaptar a alimentação às necessidades dela foi intensa. Após um longo tratamento, o médico autorizou a ingestão de leite de vaca. Depois de muitos testes, a marca que menos deu efeitos colaterais (ressecamento ou diarréia) foi justamente a Parmalat. Estávamos tranqüilos até a semana passada. Mas a notícia sobre o leite adulterado, e posteriormente sobre o queijo, tirou nosso prumo e agora nos vemos novamente às voltas com os testes das marcas, para achar outra que não cause tantos problemas.

Se não fosse real, seria praticamente inacreditável que um empresário fizesse algo ilegal (e imoral) com seu produto somente para obter maior lucro e reduzir os custos de produção. É inumano, bestial. Será que essas pessoas fazem o mesmo em suas casas? Será que eles alimentam seus filhos com lixo, com coisas estragadas ou com produtos nocivos na composição? Eles teriam coragem de consumir o próprio produto? Claro que não, né! Afinal, com o dinheiro que ganham nos tapeando, devem comprar só coisas de primeira linha, talvez até somente os importados.

Não quero generalizar, mas se não podemos confiar nem no alimento básico, que a grosso modo, não tem um processo de produção tão complexo, como é que poderemos confiar em qualquer outro alimento, até os mais elaborados? Preciso alimentar minhas filhas, assim como qualquer pai ou mãe, mas como saber se as outras marcas também não fazem alguma coisa errada ou se são vítimas de produtores safados? Não merecemos ou podemos ser vítimas desse tipo de gente. Já bastam outras preocupações que povoam nosso cotidiano. Não é justo que tenhamos que engolir essa podridão, regada a muito leite e queijo podres.

É imprescindível que as autoridades competentes (ou que deveriam ser) tomem atitudes severas, tanto para punir tais produtores (nesse ponto sou radical, tirar a licença para fabricação) e inibir qualquer tipo de ação futura que seja igualmente abominável e criminosa. O texto com o vampiro foi só uma brincadeira, e diria até uma injustiça com o próprio, pois até o monstro da história parecia ter princípios. Já os monstros reais não têm nada disso. Aliás, valores, princípios, ética, moral, respeito, solidariedade, são coisas essenciais a qualquer um, porém, ainda mais necessários para quem vai fornecer produtos e serviços a outras pessoas. Seja comercial ou não, o nome já diz, é uma relação. Relacionamento é construído com pessoas e para isso, tem de se colocar no lugar do outro (empatia) e produzir o que atenderá as necessidades latentes, não empurra qualquer troço de qualquer jeito. Não queremos resto ou porcarias, queremos o que é bom e na medida certa. Mas não quero ser injusto. Esses seres (que estão distantes do humano) estão na contramão das tendências administrativas e de responsabilidade socioambiental difundidas no mundo dos negócios. Se eles soubessem ao menos um décimo dessa lição, saberiam que não se pode envenenar o lago de onde se tira a água para sobreviver.

Desculpem a revolta e o texto longo, mas o leite me faz mal e o queijo estava engasgado na garganta. Eu tinha de vomitar tudo isso.

Abraços e até quarta.

Links das matérias:
Leite adulterado era vendido para Parmalat e Calu, diz PF

Operação da PF e Procuradoria prende 26 acusados de adulterar leite em MG

Quadrilha usava soda cáustica em leite, diz PF

'Nossas vacas não produzem soda cáustica', diz produtor

Depois do leite, PF desmonta esquema de fraude com queijo. Três pessoas são presas

Queijo recolhido em MG tinha marcas diversas Para PF, fraude em queijo pode ter proporção nacional

2 comentários:

Anônimo disse...

Você tem razão em comparar esses criminosos com as mais maldosas bruxas. Eu crei omesmo que este caso é tão ou mais grave que aquele dos medicamentos falsificados (não se se se lembra).
O que me preocupa mesmo é ver queas autoridades estão minimizando o assunto, como se fosse normal a ingetão de leite com soda cáustica ou sabe-se lá mais o que.
o dinheiro, sempre o dinheiro....

beijos

Helô disse...

Realmente, lamentável que tenha ocorrido isso. É um´páis perdido mesmo, nem no leite podemos confiar... quem sabe um dia tentarão também danificar o leite materno, ou quem sabe essa será talvez a única fonte de alimento confiável que teremos! Salve as mulheres que amamentam, pois quem sabe não será o leite delas que iremos ter que beber daqui pra frente?
Abraços